Novo domingo. Se as vezes é 'só mais um dia', outras é 'que bom que passou mais um dia'. Isso porque, a vida é mais ou menos plena nas horas. Porém, sempre há o dia seguinte. Não inventaram barreira para o otimista. Tampouco para o pessimista. Ambos escorregam na mesma grama orvalhada.
Se todos os dias são assim há tiras de papel para tintas azuis, pretas, verdes, vermelhas. Basta o movimento do pulso nos dedos fixos. A firmeza da caligrafia antiga. A paciência da escrita à mão.
E quem escreve à mão hoje? Eu, mas não agora. São meus dedões que tocam de leve a tela plana luminosa e as letras surgem às migalhas. É rápido, limpo, com correção ortográfica automática e antes que eu chegue na metade da palavra o computador, como um advinho, descobre o vernáculo com seus acentos corretos e bem escritos. Quase uma co-autoria. Bah. No papel sai tudo errado. Escrevo mexer com "ch", cabeleireiro, que mal consigo pronunciar sem xingar a palavra, sai cabeleleiro. Essas ja aprendi, hehe, brincadeira. Mas, sim, a escrita na máquina é negativa. Não persistem os riscos e as pausas da caligrafia. Palavras espremidas, asteriscos naturais, outros sinais e letras difíceis de entender. Nada disso. Apenas a ordem seca e clara do alfabeto, a mistura indelével da gramática com a ortografia. O português tradicional na leitura dos bytes elétricos que passaram a noite por um fio. Tudo bem. Tudo muito prático. Cansa menos. Tenho preguiça das lavadeiras de Alagoas do velho Graça. Transpor os dedos do papel macio custa caro porque o tempo é ouro, escasso. Contudo, vale o preço. Vale a diferença. Outros tantos momentos me masturbo no papel. E a porra toda fica lá grudada. A matéria irá aprodecer, as bactérias terão seu alimento.
Os anos são inofensivos aqui. A cara continua jovem, sem reimpressões. Gosto da escrita digital. Também muito da impressa, caligráfica, com o perdão do auto-corretor que me deixou escrever uma palavra que ele não reconheceu. As vezes acontece. Até a máquina é falível.
Quero escrever todo dia. Gostaria. Mas, a transição entre espaços, temas, tarefas e instrumentos me confunde, cansa, esvazia. E as palavras só vêm quando querem. No tempo delas. Tudo bem.
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