13.11.14

O 'álcool' venceu a enquete. O texto: A nuvem Rosa.

Entre os temas 'trabalho', 'religião', 'solidão' e 'álcool', este último recebeu mais votos.

Muito bem. Segue abaixo, o texto prometido. Bom, ruim, muito bom? Cliquem, comentem, interajam. Abraço. Muito obrigado mesmo pelos votos.



A nuvem rosa era azul. Não sua coloração, rosácea mesmo, mas seu humor. Azul azul amanhecia e percorria o céu. Não naquele dia, porém.
As nuvens dificilmente estão sós. De existência tênue, costumeiramente se ajuntam para prolongar sua beleza. Elas não gostam de desaparecerem não.
Nossa nuvem é a nuvem Rosa. Nascida em entardecer na Serra São José, quando conheceu o Seu Zé tinha apenas cinco minutos de clarão.
Era dia seco, quente e abafadão. A Rosa estava sozinha lá em cima. E, porque não sabemos, pousada bem em cima da chácara do Zé.
O Zé era mais um desses cumpadi que nós da cidade temos aquela invejinha. Acordava com os primeiros raios, tomava café de coador, broa de milho, leite quente fresco, queijo mineiro. À tarde, doce de leite, mais café fresco, pão de queijo, polvilho. O tempo parece que corre mais lento, que é mais longo. Das últimas luzes do sol tirava seu sono, percebia a mudança dos sons da natureza, dormia até o astro acordá-lo de novo. O bisavô, o vô, o pai, de outros nomes (Joaquim, Abreu, João), com iguais histórias de roça. Poucas posses, muito trabalho, ritmo do fumo de corda. Planta, cuida, nasce e come.
Nossos amigos naquela tarde se cruzaram. Na verdade, não foi bem cruzamento, já que o Zé, a essa hora, como sempre, estava na rede do copiar olhando a São Domingos com um olho só. Foi mais um esbarrão. Daqueles de destino, sabe?!
Foi assim que a nuvem Rosa conheceu o Zé. Por acaso, no ocaso. Fixou-se naquele ponto do céu baixo, segurando-se nos ramos de uma árvore pequena. E era como se estivesse sido criada para ele. Já o Zé, com o sono à galope, não deu muita bola à Rosa. Viu que não viu, dormiu.
Bem que o povo daquela pequena vila serrana comentou no dia seguinte: “viram quela nuvi bunita ontem d’arde?!”, ficou parara bem uns cinco minuto só ela lá no arto, nunquitinvisto isso, sô.”
“Vi sim”, disse Seu Zé, já di pé no bar em frente à igreja. “Ela paricia qui tava de oio nimim, coisi di doido. Fiz que não fiz e fechei os zóio, achei mió. Quando fecho os zóio eu sumo. Num é assim?! hehehe hehe he.”
Quanto à Rosa, sem olhos, com milhares de partículas de lá para cá e acolá, ao invés, havia ficado uns, na verdade, sete minutos estática lá. Se podia não podia, mas ficou. Dia seguinte, tão quente quanto, lá novamente ela, dessa vez, sobre o quintal do Zé. Baixa, escondida entre dois morrinhos e uma dúzia de árvores médias. Bem que só dava para o Zé vê-la.
Viu. O olho aberto abriu mais um cadinho e logo fechou. Medo o Zé sentiu. “Cá que essa nuvi pareceu de novo? Vô abri num vô abri?” Abriu. Tava ela um pouquinho mais baixa. Mais perto da altura do telhado da casinha térrea. “Oi.” “Oi?! Falou, quem falou? Onde tá tu, tatu?”
É bem verdade que Seu Zé tinha bebido pouco a mais queledia. Calor, papo baum, a história da nuvi. Bebeu sim. Mais isso deixa a história melhor. Nunca saberemos se o “oi” e os próximos fatos realmente aconteceram ou se não passaram de imaginação do Zé.
Dia seguinte, mesmo tempo seco. Pó-poeira. Seu Zé contou para os cumpadi sobre o “oi”. Não deram corda, conheciam o már da cachaça. Pálpebras baixas, cara rosada-avermelhada, sorriso fácil, cansaço, muito torpor para um homem só. Zé incucado manteve os dois olhos bem abertos naquele fim de tarde. Espera, espera. Sono, dormiu.
Acordou com frio. Abriu devagarinho os olhos e o ar estava esfumaçado. “Eita, não pode ser queimada. Esse frio, meu Pai do céu?! E tá tudo meio rosa, ixe.” Saiu da rede, passos até o quintal, viu a varanda metida em neblina. Fora de lá, quente. “É quela nuvi doida. Vô é pra perto das vaca, lá é mió, lá é mió.” Foi. 
Nova tarde. Zé distraído, Zé beberrão, esqueceu da Rosinha e dormiu pesado na rede. A Rosa gostou. Observou o Zé, observou e observou.
“Que tá molhada essa grama? Tudo seco, sozinho, seco, triste, e meu quintal assim. A nuvem!”
E quela tardinha foi, dizem, única dentre tantas. Ele não bebeu. Esperou sentado e ela surgiu. “Oi.” “Oi”, disse o Zé. Ele podia ser desconfiado, supersticioso, e gostar da água de alambique sim. Porém, Zé era corajoso. Não logo. Mas a coragem vinha. Preguiçosa, mas vinha. Coragem daquela que vem com sentido, convicção, forte mesmo. “Sou a Rosinha.” “Aqui é o Zé.” “Não tem medo?” “De cobra, resfriado, revórvi e da seca. Nuvi é baum, é bunita.” Não disseram mais nada.
Passaram-se três dias. Nosso personagem passou eles “nas nuvens”. Do trabalho para a rede, sem bar. Achou ótimo. Ele não era alcóolatra. Bebia pouco, só que logo estava alterado. Há pessoas assim. Se continuava passava bastante mal. Bebia pouco.
No quarto dia, após quela tardinha boa: “sentiu minha falta, Zé?” “Sabia que ia vortá. Por que sozinha?” “Por pouco tempo. Logo virão meus parentes. Céu baixo, confusão, desaparecerei. A vida das nuvens é curta. Mesmo assim, como as borboletas, somos preparadas e conhecemos todo o ciclo por qual passaremos. As respostas, as perguntas e as charadas do mundo.” “Eita, conte pra eu, intaum.” “Não posso. Gostei de você, mas não posso. A nuvem não pode, mas brincalhona que é, interage com os seres humanos. Transforma-se em carneirinho, rosto, cavalo, baleia, urso, dentre tantas outras formas. Segue carros, caravanas e até conversa com caras especiais como você. Mas é só, e breve.” “Estou com sono, vô drumi. Chove ni mim não dona nuvi.”
Acredite se quiser, o Zé dormiu. Dormiu bem. A Rosa, cobrindo a grande claridade da lua, deixou a temperatura boa para ele. Fresco o suficiente, nem muito, nem pouco.
Seu Zé não viu mais a Rosinha. Dia que veio manheceu úmido, nublado. Depois do café quente, choveu. O Zé parou na beira do copiar, sorriu, e choveu também.









5.11.14

6.000 visualizações.

Muito obrigado. Continuarei o esforço para, com regularidade, preparar bom conteúdo. Voltem sempre. Grande abraço, Piero.




4.11.14

Inconformidade.

Inconformidade. Com a situação. Mas sou, estou conforme ela. Então, como imaginar disforme? Talvez seja eu, e não a ocasião.
Acessos seguros para lições novas. Ligações surpresas entretidas por mudanças climáticas. Quero, porém, rede, água de coco bem doce e gelada, pé na areia, vista para um belo trecho de mar.
Mar demais corrói. Volto para dentro. Quero lá fora. Chove, faz frio. Calor.
Do início me perco. Retorno, já que até agora continuo aqui. Distrações, distrações. Tempos de todas. Cidades, pessoas, virtualidades, compromissos todos, segundos poucos.
Minutos. Horas. Dias etc. Poucos? Não, muitos. Sempre? Hoje sim, ontem talvez, amanhã não sei, mesmo porque eles já passaram. Os que passarão, como diz o poeta, passarinho.
          Ponto.  

3.11.14

Clube do livro: Bíblia.


Dispensados comentários prévios sobre este livro, claro.

Já comecei. Estou gostando bastante.

Me acompanha?