26.6.16

noção de ser pai

Parece que ser pai também é ser filho de novo. Explico. Os pais do pai, agora avós, tendem mil encantos pelo neto. Meu neto. Afinal, te criei, meu filho. Seu filho é muito nosso. Se não fosse por nós, oras. Não é crítica negativa. Que alegria ter meus pais hoje avós. Não conheci todos os meus avós. Gostaria muito. Seu Remo, tenho certeza, teria sido um avó muito importante. Mesmo sem nunca tê-lo conhecido, sua presença sempre foi muito forte. Me emociono de pensar nisso. Digo, então, não pela posse ou implicações, mas por essa emoção tão grande que vive na família. Nascer e ser criado até hoje, ensinado, respeitado. Sinto isso com o Pedro. A importância do filho para o pai. E, nossa, como é um sentimento forte. Só de pensar que algo possa rompê-lo é muito sufocante. O filho é um pouco do pai e vice-versa. É como se fosse a mesma vida. E os avós, pais do pai, viveram a mesma coisa que eu há mais de trinta anos. E hoje, só depois de ter o Pedro, e viver isso, posso escrever esse texto, ser filho de novo, ter noção de ser pai. Caramba. As palavras estão aqui, mas só vivendo mesmo. Recomendo. Tenha um filho, meu caro. 

24.6.16

filhote

O que é que o filho tem?
Tem ombro, cabeça e pé. 
Tem dor, frio e fome.
E luz também. 
Tem sorriso, mordida, trem.
E sono tão bem.
O que é que ele tem?
É amor, atenção e brincadera.
Família, bicho e força. 
Cheiros também. 
O que é que o filho não tem?

16.6.16

só instinto e amor

Ainda não fala. No máximo balbucia. Começa a entender mais coisas. Reconhecer pessoas. Responde ao amor. Melhor, corresponde. O Pedro faz 11 meses na próxima quarta-feira. E eu faço junto com ele. Onze meses que ele saiu da barriga da mamãe (quão mágico é isso? na era tecnológica) e convive conosco. A expectativa é enorme. As descobertas do dia, as evoluções biológicas, a interação da fala, do caminhar, dos sentimentos mais parecidos com os nossos. Há hoje muito instinto, pureza, ingenuidade, fragilidade. Virão tantos outros. Manias, vontades, birra, tristeza, amizade, coragem, teimosia, saudade. Todos muito claros e comunicativos. Estados de vida. A fase atual é ótima. Outras também serão. E, espero, acompanharei de perto. Disposto para tudo, meu filho. Vamos lá. Te amo muito. 

4.6.16

capítulo V a doze

A vida da doze antes era quase normal, não fosse seu amor pelo sete.
Café da manhã não havia. Almoço pouco, lanches. Meia janta. Só pensava no moço. Via ele todo dia no caminho dos estudos. Ele lia no banco da árvore, ela saía de casa de manhã, do outro lado da rua. Cumprimentavam-se. Olhares. Dois anos.
Olá, meu nome é Laís. O meu é Jonas. Qual livro está lendo dessa vez? O mesmo. Sempre o mesmo. E sempre outro. É uma obra literária. A cada dia surge uma nova visão do texto, na medida dos acontecimentos da minha vida. E não enjoa? Leio só uma página por dia. Na hora que eu saio de casa. Sim. Está me paquerando? Gostaria de saber sobre a história? Adoraria. É sobre uma nova organização social. Pessoas dispostas a criarem um novo rumo das coisas. O livro é como um manual para isso? Pode se dizer que sim. Então não é literatura. É um manual. Não. Tudo se passa no contexto de um personagem, da Leila. Como termina? A sociedade dá certo? Literatura boa. Você decide se deu certo. Como assim? Depende da sua visão da vida. Acha que poderia escolher morar isolada parcialmente de todos e seguir novas regras, submeter-se a um novo líder? Faço isso já. E o líder vem e vai com o passar do tempo. Literatura. Me empresta? Tome.