11.9.16

capítulo vii

O bom enxadrista dirá que só existe um movimento certo entre tantas possibilidades que se apresentam e se apresentarão em seguida, a depender da jogada anterior: o melhor.
Seja com limite pré-fixado de tempo ou não (sempre há um limite, porém), também na vida nosso personagem Sete matutou suas escolhas. E sempre teve pelo menos duas: agir ou não. E ainda pensava que as alternativas se confundiam, pois não agir era uma atitude, então, nossa mera existência já tanto influi na Terra, com todas as implicações da passividade humana. Existem séries de TV sobre as transformações severas no planeta caso os seres humanos simplesmente virassem estátuas ou mesmo subtamente desaparecessem.
Depois que ele conheceu sua musa Doze não pensava em mais nada senão levá-la ao matagal e caçar borboletas, claro. Já pensou besteira, né?! Colecionador de borboletas desde os sete quando herdara a famosa coleção de seu avô. Aumentara um pouco a coleção, já que, como os vagalumes abundantes de sua infância, as borboletas eram cada vez mais raras nos poucos quintais que tinha acesso da cidade.
Até os doze era fácil. Ia com sua avó de casa em casa, desde que percebesse um quintal florido, e não raro obtinha a permissão para caçar as belas voadoras. Às vezes capturava duas borboletas diferentes em um único mês de insistentes buscas. As prendia em um pote e depois de um tempo afastado (não conseguia vê-las morrendo) fazia o fichamento e a devida conservação. 
Depois de mais velho, sozinho, raramente deixavam-no entrar nas casas. Apelava para praças, parques, viagens. 
Doze, antes de iniciarem a sociedade secreta, o acompanhou em uma viagem para uma fazenda no interior muito florida. O proprietário colecionava espécies de flores do mundo inteiro. Estufas, flores aquáticas, de montanha, de planícies, de clima úmido, temperado e seco. Foram dez borboletas diferentes em um feriado prolongado. 
Era ótimo. Ele contava sobre a vida curta das borboletas e sua única chance de preservação da espécie. Sobre a metamorfose fantástica lagarta-borboleta. Sobre as diferenças em suas cores, tamanhos e preferências alimentares. Era um infinito de informações. 
Doze achava incrível essa paixão pela delicadeza de um inseto tão frágil, mas tão forte na mente das pessoas. Quem não se encanta com uma borboleta? Que com pouco esforço, mesmo sem redes, pode ser capturada com dois dedos fechados nas pontas de suas asas. Debate-se, suspira, morre. 
O instinto. As escolhas são fruto dele? Até que ponto podemos transpor nosso instinto de sobrevivência própria e da nossa espécie? Chegará um momento em que todos escolherão não ter filhos? A tendência é essa, ao que pesquisas demográficas indicam. A população decresce em ânimo de procriação. Aumentam os habitantes ainda porque o povo não morre logo. Os velhos serão maioria um dia, indica o gráfico. O mundo envelhece.
Sete escolheu. Não envelhecer no mato com meia dúzia de revoltados com a poluição da cidade, optou por um destino diferente do que seu instinto pedia. A cidade garantia alimento, calor, pessoas, saúde e filhos. O mato era inóspito. Tudo muito escasso. Frio, doenças sem pronto tratamento, uma vida breve. Vamos, minha borboleta? Sim, ela disse. Foram. Escolheram. Talvez até fosse, na verdade, o instinto deles.
Só não esperava o Sete pelo o que aconteceria tão cedo, súbito, rápido. 

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