27.1.15

Saia da obrigatoriedade e cuide de você.

Com alegria, publico mais um texto de colaboradores. Esse é da jornalista Larine Flores, simpática colega das letras. Ela publica seus textos no blog https://almaemflor.wordpress.com/ Vale conferir.


Saia da obrigatoriedade e cuide de você


Essa postagem reflete bem meu afastamento do blog nos últimos dias. Precisava de um tempo meu para digerir tantas mudanças e algumas perdas. No começo, me senti culpada em não continuar o projeto. Depois, entendi minha necessidade e como eu mesma me culpava por ela. Pensei em tanta gente que se sentiria culpada da mesma maneira. Daí nasceu essa postagem.

Desde pequenos somos condicionados a fazer o que é preciso: acordar na hora certa, agir socialmente, seguir as regras da boa educação; Ao crescermos, nossas atividades vão mudando, mas as regras e imposições só se adaptam. Chegamos à idade adulta em um condicionamento feroz de que há coisas mais importantes que aquelas dentro de nós e que a saúde emocional não deve interferir na vida prática. Mas será tão simples?

O pai da psicanálise, Sigmund Freud, já dizia: “Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Apesar de todas as contradições na vida do renomado estudioso, tal frase tem impacto prático e é provada verdade todos os dias. Devemos sempre ignorar quão humanos somos e trabalhar feito máquinas, pensar como robôs e nos condicionar como pequenas peças em uma indústria. Até quando? Em 2011, quase quatro anos atrás, a depressão já era tema na mídia. Nesta reportagem, um renomado jornal fala sobre como a doença pode desencadear dores físicas. Esta outra matéria, publicada três anos depois da primeira, confirma a descoberta e aponta: o problema é uma das principais causas do afastamento no ambiente de trabalho.

Pode ser que a priorização da vida prática não te leve à depressão – mas lembre-se, existem vários outros transtornos e problemas, até mesmo físicos, causados pela falta de equilíbrio emocional. Pode ser que você nunca precise tirar licença no trabalho, nunca falte à escola, nunca sequer sinta o peso de qualquer tipo de avaria emocional. Se esse for o caso, sorte a sua e azar de mais de 350 milhões de pessoas. De qualquer maneira, tendo em vista a dimensão tomada pelos problemas psicológicos, é preciso repensar e desconstruir essa cultura do trabalho e da abdicação absoluta.

A cultura da obrigatoriedade nos faz achar bonito sacrificar tudo por um ideal, mas que sentido isso faz?
A cultura da obrigatoriedade nos faz achar bonito sacrificar tudo por um ideal, mas que sentido isso faz?

É normal entre as empresas mais antigas a valorização do funcionário que trabalha com dores, que ignora os problemas, que nunca tira folgas e está sempre disposto a fazer mais algumas horas no trabalho. Entre as companhias mais jovens, onde uma nova filosofia do trabalho começa a surgir, não tanto: a saúde física e mental do funcionário tende a ser prioridade. As mudanças não indicam que as empresas estão se tornando mais boazinhas, mas mais inteligentes e responsáveis. O funcionário que se mata de trabalhar sem folga ou direitos se torna estressado, provavelmente sedentário, quase sempre desenvolvendo um problema emocional. Ele se liga tão fortemente à empresa e ao trabalho em si que deixa de viver a própria vida em detrimento da companhia. Apesar de parecer positivo aos contratantes, não é. Ele se atrela àquilo como uma conquista pessoal e passa a não conseguir delegar responsabilidades, se torna acumulador das tarefas e assim, perde qualidade no trabalho.

Tudo funciona como um ciclo: a pessoa que força a barra acredita ser a única competente e capaz, acumulando tarefas que já não consegue desempenhar com a mesma destreza até que a bomba estoura: um problema, uma ação mal calculada, um erro. O funcionário, que se achava todo capaz e poderoso, cai em um poço sem fundo de frustração e tristeza. A essa altura, ele já vive pelo trabalho e acredita ser apenas o profissional. Ele atingiu o ponto de desgaste emocional onde o afastamento é mandatório. Sem saber quem é fora do ambiente corporativo, é encaminhado a médicos, passa por tratamentos e descobre o diagnóstico: esgotamento, depressão, síndrome do pânico… Por aí vai. Ter esse processo em mente é o que faz as novas companhias pensarem em direitos e diversões para o funcionário – e é também o que faz os novos profissionais encararem o emprego como uma parte da vida, e não o todo.

Aqui o exemplo foi o emprego, mas muitas vezes a gente se doa tanto para um relacionamento, para a família, para os filhos… que o mesmo acontece. Não encontramos equilíbrio. E o equilíbrio é, sim, a chave para uma vida feliz. A proposta desta postagem como um todo é trazer a reflexão: eu faço o que faço por amor, por desejo, por vontade ou eu sou escrevo daquilo que escolhi? Se pensa que pode estar caindo na segunda opção, esteja atento. Saia para dançar, vá ao seu restaurante preferido, tire um fim de semana de folga sem pensar no trabalho, encontre os amigos, planeje uma viagem… Faça algo por você. Se sua vontade for só passar um dia na cama e se recuperar emocionalmente de qualquer coisa, como foi comigo, tudo bem também.

A obrigatoriedade da vida não deve e nem pode nos esmagar tanto. Somos tão condicionados a viver como robôs que, na mínima tentativa de pensar em si, cada um ouve uma vozinha lá no fundo apontando egoísmo nessa ação. Na verdade, egoísmo é se achar tão imprescindível e indispensável a ponto de se dar inteiramente a algo e esquecer outros aspectos da vida. Equilibre, pense em si, aja por você. Ironicamente, essa é a melhor maneira de ser autêntico e agradável também para as pessoas ao seu redor.

https://almaemflor.wordpress.com/2015/01/22/saia-da-obrigatoriedade-e-cuide-de-voce/ , 27.1.2015.

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