A
pena entrou em greve. “Não escrevo mais.” “Mas, assim não pode ser, o mundo
precisa da escrita”, contestou o escritor. “Discordo. Você não chegou até
aqui?! Aliás, nem sempre se escreve. Prefiro os desenhos, a fala, a música e as
esculturas. Escrever é tão cansativo. Estou farta dessas suas dúvidas, com pausas,
com riscos e com inserções.” Ele, indignado: “essa é boa, essa é boa, hahaha. O
trabalho de um pincel, pode apostar, é muito mais desgastante. Vive com a
cabeça molhada e multicolorida. As ferramentas de um escultor, mais ainda, são
castigadas intensamente. Bate, puxa, descasca, fura.” Ela se calou.
No
dia seguinte, angustiado, ele a buscou da gaveta, esperançoso de ânimos mais
serenos. Que nada. Mesma casmurrice.
“Não
é possível. As pessoas sentirão muita falta dos seus préstimos, entremos em um
acordo, o que propõe?”
Interessada,
a dona da escrita pensou, pensou, e teve uma ideia. “Aceito. Diferentemente de
outras artes ou funções, escrever e ler demandam muito mais imaginação e
esforço para o interlocutor. O trabalho é meio pronto. Seu final vem pelo
outro. Este, além dos estímulos intuitivos do tato, da audição e da visão, deve
conhecer todo um complexo código, o das letras. Por isso, ou sabe-se ler, ou o texto
não terá serventia. Assim, sinto inveja das outras artes, mais populares.
Também quero entrar nessa dança, poxa. Pois bem, o acordo é esse: voltarei a
trabalhar se você concordar em defender, em divulgar, em enriquecer meu lado
artístico. Chega de escrever só cartas, panfletos políticos, normas jurídicas e
avisos de “propriedade particular”. Use-me para o encanto, para a surpresa,
como faísca da imaginação, como impulso para um lugar melhor. Combinado?!”
Dizem
que foi assim que foi escrito o primeiro livro.
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