17.10.15

O cercadinho do Aroldo

Tinha duas irmãs mudas. Nasceram assim. Os sinais eram graciosos. Se saudades, o indicador e o polegar pressionavam a ponta do nariz. Se a novidade era boa, o mindinho ereto no queixo. A risada acompanhava e o papo seguia sem hora para acabar. 
Dia de chuva, raios, trovões, vento forte. A noite e o irmão visitam as irmãs. Indicador na porta do ouvido. Notícia ruim. A mãe falecera. Queda da escada espiral. Quatro metros de batidas secas na pedra colorida. Cinquenta anos. 
O choro escutavam. As cordas vocais só que nunca tinham funcionado. Narizes funguentos, batidas da mão do irmão na mesa. Eu falei, falei a ela pra instalarin corrimão. Teimosa. Teimosa. Fraca. 
Morava com as filhas. Falava pelos cotovelos. As meninas, exército de dedos, olhares e carinhos consolavam a mãe da recente morte do pai. Dois anos.
E agora? Não posso recebê-las na minha casa. Terão que viver sozinhas. Eu passarei quando puder. 
Um mês, dois, dez. Não pude vir antes. A casa muda, elas, a escada caracol. Não gostavam de barulho. Passaram bem? Nariz. Novidades? Ouvido. Descoberto o abandono. Amanhã viria o oficial do conselho tutelar. Não acredito. Não me contaram?! Pedissem para alguém telefonar. Medo. Palmas nos olhos. Tinham onze anos apenas.

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