15.1.17

Bela centopeia

Cem pernas. Sintonia máxima entre elas. Dá para imaginar uma orquestra tocando. A primeira se move e antes da chegada a centésima. Qualquer barreira se vence, o jardim é só dela.
Conheci uma. Sou um tatu-bola rápido e com o couro certo. O lugar descrevia ela, não eu, porém. Grama à cortar, folhas secas à catar por todo o quintal. Andava, andava e eu era só cansaço. A centopeia, com aquele tanto de pata, apenas movimento se via. Uma, duas, três, quatro, dez, cinquenta, infinitas, meu Deus. Como rapidamente assim? Tropecei.
Muito logo levantei. Centopeia, centopeia, chamei. Parou. Que parada. Cessar uma coisa dessas é como uma síncope. Você só imagina o trem andando. Seu Tatu, disse. E continuou.
Fiquei bem uns pares de dias com a pernuda nos olhos alagados. Não vi mais ela por alí. Contou o Seu Caramujo que mudara-se para outro ramerrão. Sonhei com ela. Cada passo tilintava e a minha atenção era plena, de cem por cento. Com atos sem donos, a centopeia é, sobretudo, mulher.

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