Tudo
é natural, mesmo o ser humano. Por que diferenciar natureza e homem, grão
orgânico de geneticamente modificado, produto natural de artificial? Não.
Polêmico, esse assunto deve ser enfrentado. Não somente por cientistas,
filósofos ou ambientalistas, mas por mim e você.
Lidemos
com fatos: a maioria da matéria do universo é composta pelos mesmos elementos
básicos (carbono, nitrogênio e oxigênio) e, como defendeu Lavoisier, nada se
cria, nada se perde, tudo se transforma (Lei da conservação das massas, publicada
em 1760). Por isso, vivemos em função das mesmas nesgas de grama do vizinho
falecido há mais de duzentos e cinquenta anos. Só as geadas que são mais raras.
Isso
significa que a invenção considerada mais geniosa é apenas uma transformação,
manipulação humana originada de “c” + “n” ou, se muito, de - “o”. O resultado é
sempre o mesmo, a derrocada do velho para o surgimento do novo. ‘Novo’ só na palavra,
no conceito, pois a novidade é tão somente o velho transformado, modificado,
artificial. Ora, mas o início do texto não dizia que tudo era natural?
Abra
o dicionário. Procure o vocábulo ‘natural’. Deve encontrar algo como, entre
outras definições: (1) da natureza; (2) em que não há trabalho ou intervenção
do homem; (...) (11) aquilo que é conforme a natureza (Miniaurélio Eletrônico
versão 5.13, 2004). E se fossemos um pouco além da definição formal?
A
boa e velha groselha traz o seguinte alerta: ‘xarope artificial sabor de
groselha’ (parece coisa do seriado do Chaves, ‘suco de tamarindo com sabor de
limão’ – e é). Talvez você nem saiba que groselha é uma fruta (eu também por
muito tempo não soube) e que realmente esse xarope não contenha qualquer traço
da pequenina fruta, além da cor. A composição é clara, sempre começando pelo
elemento em maior quantidade (sabia dessa?): açúcar, água e aroma artificial de
groselha.
E
daí?!
E
daí que esse xarope ocupou e ainda preenche as despensas de milhares (talvez
milhões) de brasileiros de todas as raças, classes sociais etc. E?! O sabor
artificial de groselha é glucose de milho. Ok, ok. Quero dizer com isso que não
importa o quanto algo seja “modificado”. Sempre, no início, no meio, no fim,
será natural.
Esqueça
a definição do dicionário. Natural significa outra coisa. Natural é tu tatu. É
o computador que obedeceu os comandos para a escrita deste texto, é a caneta de
plástico, é o xarope artificial de groselha. Pois, todos provêm dos mesmos primordiais
componentes básicos.
Enfim,
quando Raul Seixas dizia que as pessoas não entendiam a letra da música ‘Ouro
de tolo’ que ele tanto cantou, talvez ele tivesse razão. Não precisamos viver a
sociedade alternativa que ele encenava nos palcos, contudo pensemos mais nisso:
“eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas eu
acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa.”
O
que é vencer na vida? Isso também é natural (lembra da primeira frase do
texto?).
Naturalmente,
você não entendeu nada. Nem eu. Tudo bem, natural.
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