16.6.14

Órfã na janela (Adélia Prado).


Estou com saudade de Deus,
uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe,
meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus,
cavando a unha, fungando meu nariz choroso,
querendo um pôster dele, no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai,
Pra casa onde está meu pai.


Adélia Prado. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991, p. 211.



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