Acordou, afastou os plásticos pretos da abertura lateral e
divisou o começo de um dia diferente.
Silêncio humano àquela hora. Um canto de pássaro em lugar de
gritarias e tábuas em prego.
Levantou-se e estranhou a limpeza na frente do barraco e nos
arredores.
– Bom dia. É Natal.
Caminhou um pouco.
Organizado o novo café da manhã coletivo: quem pudesse contribuía
com algo e garantia o café do outro que aquele dia nada podia.
Outro tanto de passos e pessoas sorridentes distribuíam presentes
às crianças e panetones aos adultos.
Um jovem conversava com o seu Zé sobre a vitória do velho em
largar o alcoolismo e começar a trabalhar.
De repente, sonoros vivas para a notícia de que os
traficantes da região haviam largado o velho comércio lucrativo e recomeçado a
vida.
O próprio prefeito, graças ao bem sucedido convênio com
empresas nacionais e multinacionais, vinha para empregar os chefes de família e
os sozinhos em atividades remuneradas. Em tempo, viria luz, água, esgoto e tudo
o mais que os ricos têm direito.
O ‘terrenão’, como era conhecido o local invadido, seria doado
pelo proprietário que descobrira que podia seguir com sua fortuna sem essa
terra.
Todos olhavam nos olhos dos vizinhos e dos transeuntes.
Felizes. Uma nova vida iniciada.
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Conto de Natal?
Mas, não estamos na Terra?
Como no poema Pasárgada, de Fernando Pessoa, devemos pensar que
tudo que é ruim pode ser melhorado por nós. Em pequena, média ou grande escala
nossas ações reverberam. Diria mais: mesmo nossos pensamentos têm incrível
força.
Ao menos no Natal que, graças a Deus e seu filho, tem todo
ano, reflitamos sobre as nossas atitudes com o próximo.
O próximo no seu mais simples sentido: o seu vizinho, o seu
colega de trabalho, o homem ou a mulher, criança, jovem, adulto, velho, doente,
saudável, rico, pobre, amarelo, branco, negro, triste, feliz etc. que está na
sua frente. O próximo.
Você respeita o limite dele? Ele respeita o seu? Você ignora
a sua existência? Ajuda no que puder? Reflete sobre ele?
Não custa. É Natal, animal.
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