4.7.14

Vida simples.

Luigi estava incomodado. Não sabia de cor as Capitais dos Estados Brasileiros, tampouco os Estados, se Estados ou Capitais.
Não tinha pretensões de decorá-las, mas gostaria de saber. Muitas vezes isso acontece, querermos algo pela metade –, se conseguirmos, ótimo, senão, tudo bem também.
Salvou o mapa do Brasil como fundo de tela do seu computador do trabalho. Não adiantava. Conferia as Capitais e elas logo fugiam (se é que encontravam) de seus neurônios de decorar.
Outras demandas. A tabuada, o abecedário etc. Nada disso importava muito para ele. A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, Y, U, W, V. “Será?”, pensou. Desastre, como sempre.
Porém, Luigi gostava, vejam só, de escrever. Escrevia em cadernos espalhados pela casa, desde cedo.

O dia era como muitos antes. Evitava consumir, talões de cheques, cartão de crédito, pensar no futuro distante. Alegrava-se com passarinhos cantando, com as cores do amanhecer e do entardecer. Belo dia de inverno. Contrastes vivos vivos das araucárias com o laranja do último horizonte do dia.
Próximo de 10 anos de conquistas pecuniárias, Luigi pensava em suas capacidades e naquilo que esperava hoje e nos próximos tempos. No caminho, por vezes, pessimismo e baixa autoestima.
Iniciativas de mudanças, as próprias realizadas, julgamentos sobre elas. “Não deveria ter mudado –, que erro. Fui ansioso demais.”
 Esses dias, contudo, conversa sincera, a palavra coragem foi novamente apresentada a ele. Ele adora esse vocábulo. ‘Coragem.’ “Você é corajoso.”, disseram. “Sou?”
Ele é.
Corajoso, enérgico, por viver com simplicidade. Pela vida simples que leva. Por mudar, arcar e sorver os desafios esperados ou não. Arrisca. Não segue muitas regras, a não ser as dele, que muda constantemente. “Afinal, se eu não sigo as regras, as regras não me seguem.”
Não gosta de carros, de novas tecnologias da moda, da maioria. “Do contra”, só para contrariar, argumentos até desgastar o sujeito –, ele não. Sonha com a vida monástica ou de caseiro ou de atendente de floricultura ou de militar ou de jornalista ou de monge porta-voz jardineiro vigia.
Não sabe, entretanto, o que é vida simples. Talvez a dele, por ele julgada. Mas, com simplicidade, ignora a tabuada, o abecedário, as Capitais dos Estados brasileiros. O que não o impede de escrever essas descomplicadas linhas em breve tempo de barulhento ambiente.
Vida simples é você quem determina. É a sua, não a do outro para o outro. Simples assim.



  

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