17.7.14

Quadra dos círculos.


Aquela certeza (se certezas existirem) o acompanharia em todos os seus atos, menor eles fossem.

Como quando suspiramos diante de desafios sem sentido, ele olhava para frente sem nada desejar. Refletia.

Era um dia nublado, sem compromissos, tempo livre livre. Pensava sobre o destino. Se seríamos, pelas circunstâncias do nosso nascimento, da nossa educação, do nosso meio-social, levados a traçar determinado caminho.

(O nome disso, dizem, seria ‘crise existencial’. Diz-se que todos a enfrentaremos um dia. Jean-Paul Sartre, filósofo francês, escreveu sobre isso. Leia ‘A Idade da Razão’.) 

Jovem normal. Escola, família, esporte, amigos (não muitos), televisão, cinema, namoros.
Seguro nas grades do condomínio, sentado na cadeira de tomar sol da piscina do prédio, não se sentia bem. Queria ser livre, andar por aí sem ter onde ir. Chavão baum, pés saudáveis, porta automática do porteiro Luiz.
Gostava de espiar o que o porteiro assistia na pequena tevê branco e preto.
– Oh, Luiz, o que está assistindo aí? Aviões nas Torres Gêmeas??? Como assim?
– E vem outro vem outro, meu Deus. Exclamou Luiz.
– Nossa, vou subir.
No entanto, nesse dia das grades da piscina o jovem não pensava nos aviões raptados ou na programação do pequeno televisor. Pensou em fazer algo diferente. Fora da sua destinação escola, faculdade, família, velhice, morte.
“Não. Sairei pelas ruas, farei meu destino. Agora.” Pensou.
Levantou-se.
Sentou-se.
“Não posso, não posso. Meu caminho já existe e se quiser fugir dele, eu mesmo me sabotarei.” 

“Mas, como provar? Como poderia experimentar isso, dentro de segurança laboratorial?”

Suas ideias eram poucas, sua vontade grande, sua perturbação suficiente.

Levantou-se novamente. E dessa vez caminhou, caminhou, caminhou cerca de 50 passos até a quadra poliesportiva do prédio.

“Vou começar a dar voltas. Vamos ver o que acontece, já que sou livre, já que posso fazer o que bem entender.”

E assim foi feito.
Primeira volta, segunda, terceira, quarta, quinta, olhou para as janelas do prédio, “devem estar pensando: ‘o que esse perturbado está fazendo?’”, sexta, sétima, oitava, “vou acabar cansando”, nona etc. Parou. Limites físicos-mentais-auto-sensurados-em-bastante-vergonha.
Foi escrever. Estava nervoso: queria coragem para a subversão de tudo, de todos, mas mal conseguia pensar. Letra rápida, ininteligível, tinta em grandes espaços nos versos disponíveis. Guardou-os por muito tempo.
Continuou estressado, sem respostas. Subiu para seu apartamento, já noite. Sem olá, comida no prato, porta fechada, comeu sentado no chão.
Pensar não pensava.
– O que foi? Está bem? Sua mãe.
– Não sei. Nada podemos. Presos. Calmos desesperados sem graça. Vejo Jesus na minha frente, sentado no sofá. Ele sorri.

Esse dia passou. Ele continuou indo ao colégio, ao clube, frequentando os amigos. Lembra da sensação, do torpor do desconhecido. Não dá mais tanta importância.
Nasceu, entretanto, segurança concreta. Alternativas acompanhadas de perceptível sensação. Fazer isso ou aquilo, em determinadas circunstâncias, não é apenas ação, é mudança, é crescimento. E sentimos isso.

Então, ele continua notando –, muito. Não há destino, mas há ação. A nossa. Isso é verificável. 



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