21.1.14

Diferente quanto?

– Que coisa. Como ele pode gostar disso?
– Não acredito que ele fez aquilo.
Já ouviu? Já falou (mesmo que mentalmente)?
Com certeza.
O que talvez não tenha imaginado é que você é muito (muito mesmo) parecido com “o que gosta disso” e com “o que fez aquilo”.
Somos diferentes uns dos outros por tão pouco. Pouco mesmo. Cerca de quase nada. Se quiser porcentagem, seria como iguais em 99,9999999999...% ao cara que está ao seu lado.
Não me refiro apenas ao corpo humano (das necessidades fisiológicas mais básicas como cagar – a correção automática do Word sugere que eu troque por “defecar” –, mesmo que ele tenha, às vezes, que fazer mais força que você, até às mais complexas, como raciocinar e tomar decisões), mas também às virtudes e às necessidades espirituais, existenciais e de afeto.
Há, sim, abismais diferenças culturais entre os seres terrestres. Encontramos os chamados “maníacos psicopatas assassinos sem vergonha e sem caráter etc.” ou aqueles “pacifistas geniais de uma alma plena, boa e sincera”.
Então, como dizer que entre um e outro há muito mais semelhanças do que diferenças?
Todos os adultos já foram crianças, adolescentes e jovens. Foram ajudados e ajudaram; amados e amaram; criados e criaram; conhecidos e conheceram; ouvidos e ouviram; vistos e viram.
Antes de tomar uma decisão importante, outros tomaram muitas por nós.
Ao escolher conscientemente um alimento ou uma bebida, tanto já havíamos comido e bebido. Alimentados, principalmente.
Aonde quero chegar?
Que somos influenciados pelas pessoas das cercanias, não tenha e não tenho dúvidas. Seus costumes, caminhos e canções são direcionamentos potentes.
No entanto, e finalizo a reflexão, mais do que influências externas, somos feitos da mesma matéria orgânica e cósmica (o carbono, substância de que somos feitos, é a matéria mais simples e que está presente em todo o Universo) e vivemos muito próximos e confinados em um planeta redondo de parca camada de atmosfera respirável para sermos mais diferentes do que parecidos.
Pois, enfim, a conclusão é que – acredite – Jesus também fazia cocô (palavra para “Adicionar ao dicionário” da correção automática do Word. “Cocô”, não “Jesus”, claro. Então, “clic”.).


Releitura de trecho do ótimo livro “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera. Leia. Irá gostar.      

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