31.5.13

III. Papos e repapos.




Naquele tempo a liberdade da escrita o seduzia. Via na escrita um caminho de pedras lisas, mas firmes e que não escorregam. Passagem para um campo aberto, uma clareira com muito sol, mas algumas árvores para ter sombra e, porque sem água não dá, com um lago e um penhasco com cachoeira bonita.
Gostava de Graciliano Ramos. Havia lido quase todas as suas obras. Por isso, escrevia algo que teria vivido e, quem sabe, deixando dúvidas entre biografia e ficção, senão, não teria graça, pensou.
No dia tal do mês certo do ano que se findava, sentia o conflito entre o som da TV e de seu som portátil. Era uma noite de muito calor e pernilongos – morava perto de um extinto rio em que o avô dizia nadar. O avô já não tinha e o extinto rio naquele dia ainda, porém, assim era chamado: rio.
Porque tinha sono e iria acordar cedo para correr, largou a caneta que escrevinhava bonito e gostoso, e foi dormir. Tomara que quando ele voltar já haja outro personagem nesse melodrama, cruz credo, pensou ele mesmo, e foi, agora sim, dormir, já as 23:08 de 26 de dezembro de 2012, naquele quarto, naquele silêncio bom. 

MCP

II. Circunlóquios.


“Tocar na banda, pra ganha o quê?”. Ouviu no seu toca cd. Buscava inspiração para o próximo parágrafo. É assim mesmo, afinal, quando se quer algo com o coração: se faz, se começa, se age. Ele agiu, fez, já, veja só, quatro parágrafos.
Gostava de metalinguagem o danado. Mania de explicação ou era só o que sabia fazer, talvez.
Bem, tanta coisa há por aí ruim de ler, queria ele, sim, fazer algo bom, mas, uma vez feito, feito estaria, por certo. Argumentos, ah, argumentos. Mania de causídico de contencioso metido a escrever – credo. E olha que se escreve, viu, começa-se, embala-se e segura não.

MCP

I. Se ia, já foi.



Uma história / estória. Era isso. Só isso que ele queria. No menos, escreveria. Que era o que ele, com a história, faria, de qualquer forma.
E, desse jeito mesmo: sem aquela correção gramatical que ele gostaria ou aquela técnica literária que ele até dispensava, começou.
No quarto da sua casa, próximo de uma já extinta fazenda que dizem que tinha até mini-zoológico. Em um bairro com recantos arborizados, passarinhados e tranqüilos. Sem, ainda, um enredo ou grande idéia. Um romance, porém, pensou ele.

MCP

Desafio.

Desafio lançado. Quero publicar neste nascedouro de palavras uma história / romance inteirinho. Publicarei em capítulos, pois, pra ser sincero, ainda não terminei a empresa (sequer chegei na metade, acho).
Eis, a seguir, os três primeiros capítulos. A periodicidade dos imediatamente próximos (um pouco mais de 12) deve ser curta (um por semana, espero). Os demais dependerão da minha inspiração, do meu tempo livre e do meu ânimo.
Minha esperança, claro, é que pelo menos mais alguém que minha namorada leia tudo (risos).
Não custa tentar. Pelo contrário, para mim é um prazer escrever.

O título do romance: Em ritmo.

Piero.

p.s.: entre os capítulos publicarei outros textos relacionados ou não.

27.5.13

Dinâmica da vida.




Agora, neste exato momento (que já passou), escrevo em um pequeno caderno à bordo de um ônibus em movimento entre São Paulo e Vinhedo. São 18h47min de uma segunda-feira. É noite.
Com certeza ou muito provavelmente é dia no Japão. Pessoas estão em ônibus em movimento escrevendo (deve ter alguém escrevendo em caderninhos também – de papel, rs) à caminho de seus trabalhos.
Muito provavelmente há pessoas já dormindo, acordando, fazendo amor, em algum canto do mundo.
Há pessoas que estão sorrindo, chorando, que estão felizes, que estão tristes, neste instante.
Apostaria que há pessoas nascendo, morrendo, senão no segundo que passou, nesses últimos minutos.
Alguém cometeu um crime, alguém ajudou outra pessoa, nesses instantes, pode crer.
Sujeitos resolveram problemas que os chateavam, outros acabaram de ganhar um para resolver, nessa hora que passa.
Hoje, ah, hoje foram assinados tantos, mas tantos contratos que haja obrigações. Pode acreditar que outros muitos foram quebrados.
Ações judiciais foram propostas em diversos países, hoje.
No momento, voltemos a ele, promessas serão, foram, estão sendo feitas, nesse exato momento ou, senão, nos últimos e próximos segundos.
Cidadãos produzem lixo, passam fome, clamam por uma vida melhor. Rezam, meditam, passeiam com seus cachorros. Acredito que tudo isso agora aconteça.
Lá chove, acolá faz muito sol, naquele outro ponto um frio do cão, agora.
Continuo no ônibus, são 19h05min. Nesse tempo que passou, sem dúvida, músicas foram ouvidas (eu ouvi, rs), músicas foram tocadas e, muito provavelmente, criadas também.
Pedágios foram vencidos, roupas foram postas e tiradas. Bocejos são agora vividos.
Segundos passados, minutos transcorridos, vidas vividas.
Alguém, afirmo com firmeza, deu um abraço afetuoso em outro alguém que o recebeu com alegria, agorinha.
Uma criança dá um sorriso, outra abre aquele berreiro, nesse espaço de tempo em que escrevo esta frase.
E eu? Eu continuo à caminho. São 19h19min. Logo chegarei. Posso continuar escrevendo até chegar lá. Uma pessoa acabou de pensar se continua a ler um livro ou faz outra coisa, muito provavelmente isso aconteceu. Da mesma forma, outra está decidindo se sai da cama ou se fica mais tempo e tenta novamente adormecer.
Outras coisas acontecem neste exato momento? Posso imaginar tantas até o final deste breve espaço de folha e outras muitas e muitas outras até o final do próprio caderno. Não acertaria todas, talvez, mas a probabilidade, naturalmente, é que muitas estariam realmente desenvolvendo-se.
Alguém está conversando com outra pessoa em uma língua que não a sua. (Essa é fácil. O passageiro da poltrona de trás conversa em espanhol com alguém, rs.)
É isso. Tanto, tanto está por aí a acontecer. Ao nosso lado, um pouco adiante, um pouco mais ali. Tenhamos certeza disso. Da dinâmica da vida. Esse momento (que já passou enquanto eu escrevia “esse momento”) é único para mim, para você, para os outros, para a vida (embora possa não parecer). E nele acontecem tantas coisas. Ao mesmo tempo. Em diferentes perspectivas. Condições. Lugares. Tempos.
Que bom. Assim que é. Sempre foi. Continua sendo. Que eu saiba, amanhã também será.
São 19h28mim. Meu ônibus já vai chegar.

MCP

26.5.13

(Palavrão)




O que faz um sujeito coitado parado no trânsito senão esperar? Que desgraça: o sujeito, o trânsito. Que fazer? Desesperador. De fato. Que coisa. Que lamento. Tantos carros, caminhões, tranqueiras, diversas tranqueiras sobre quatro ou mais rodas. O aço e os jumentos que os guiam. Parou de novo. Mio Dio. Il mio Dio. Paradíssimo.  Sim, sim. Aaaaaaaah. Que (palavrão) aconteceu pela frente? Porque para trás, ah, para trás já tanto aconteceu. Muita coisa errada. O caminhão trava. Que caneta gostosa. Dá impressão que a tinta é infinita. Hahá. Vamos prestar atenção aqui senão outros prestarão por mim, rs.

Pronto. Agora travou de vez. Devem ter ocupado todos os espaços à frente. Que (palavrão). O que aconteceu? Caiu um disco voador, abriu-se um buraco do nada? O carro de emergência está dois carros atrás. Tentou passar, buzinou e buzinou. Opa, finalmente alguém. – Tombou um caminhão lá na frente.

(Palavrão). Isso é grave. E para tirar essa (palavrão)? Até que enfim o caminhão ao lado desligou o motor. Háh, têm carros ainda com o motor ligado. Logo se tocam que (palavrão). (PALAVRÃO). ECOVIAS nem atende já há algum tempo. Sabe lá. Sabe lá quando vão resolver essa (palavrão). Que (palavrão), só digo isso, rs. QUE (PALAVRÃO). E que caneta boa. Boa a beça. Que coisa. Acontece, ué.

MCP