Agora, neste exato
momento (que já passou), escrevo em um pequeno caderno à bordo de um ônibus em
movimento entre São Paulo e Vinhedo. São 18h47min de uma segunda-feira. É noite.
Com certeza ou muito
provavelmente é dia no Japão. Pessoas estão em ônibus em movimento escrevendo (deve ter alguém escrevendo em caderninhos também – de papel, rs) à caminho de
seus trabalhos.
Muito provavelmente há pessoas já dormindo, acordando, fazendo amor, em algum canto do mundo.
Há pessoas que estão
sorrindo, chorando, que estão felizes, que estão tristes, neste instante.
Apostaria que há
pessoas nascendo, morrendo, senão no segundo que passou, nesses últimos
minutos.
Alguém cometeu um
crime, alguém ajudou outra pessoa, nesses instantes, pode crer.
Sujeitos resolveram
problemas que os chateavam, outros acabaram de ganhar um para resolver, nessa
hora que passa.
Hoje, ah, hoje foram
assinados tantos, mas tantos contratos que haja obrigações. Pode acreditar que
outros muitos foram quebrados.
Ações judiciais foram
propostas em diversos países, hoje.
No momento, voltemos a
ele, promessas serão, foram, estão sendo feitas, nesse exato momento ou, senão,
nos últimos e próximos segundos.
Cidadãos produzem lixo,
passam fome, clamam por uma vida melhor. Rezam, meditam, passeiam com seus
cachorros. Acredito que tudo isso agora aconteça.
Lá chove, acolá faz
muito sol, naquele outro ponto um frio do cão, agora.
Continuo no ônibus, são
19h05min. Nesse tempo que passou, sem dúvida, músicas foram ouvidas (eu ouvi, rs),
músicas foram tocadas e, muito provavelmente, criadas também.
Pedágios foram
vencidos, roupas foram postas e tiradas. Bocejos são agora vividos.
Segundos passados,
minutos transcorridos, vidas vividas.
Alguém, afirmo com
firmeza, deu um abraço afetuoso em outro alguém que o recebeu com alegria,
agorinha.
Uma criança dá um sorriso, outra abre aquele
berreiro, nesse espaço de tempo em que escrevo esta frase.
E eu? Eu continuo à caminho. São 19h19min. Logo chegarei. Posso continuar escrevendo até chegar lá.
Uma pessoa acabou de pensar se continua a ler um livro ou faz outra coisa,
muito provavelmente isso aconteceu. Da mesma forma, outra está decidindo se sai
da cama ou se fica mais tempo e tenta novamente adormecer.
Outras coisas acontecem
neste exato momento? Posso imaginar tantas até o final deste breve espaço de
folha e outras muitas e muitas outras até o final do próprio caderno. Não
acertaria todas, talvez, mas a probabilidade, naturalmente, é que muitas
estariam realmente desenvolvendo-se.
Alguém está conversando
com outra pessoa em uma língua que não a sua. (Essa é fácil. O passageiro da
poltrona de trás conversa em espanhol com alguém, rs.)
É isso. Tanto, tanto
está por aí a acontecer. Ao nosso lado, um pouco adiante, um pouco mais ali.
Tenhamos certeza disso. Da dinâmica da vida. Esse momento (que já passou
enquanto eu escrevia “esse momento”) é único para mim, para você, para os
outros, para a vida (embora possa não parecer). E nele acontecem tantas coisas.
Ao mesmo tempo. Em diferentes perspectivas. Condições. Lugares. Tempos.
Que bom. Assim que é.
Sempre foi. Continua sendo. Que eu saiba, amanhã também será.
São 19h28mim. Meu ônibus
já vai chegar.
MCP