16.6.15

Gavetas

Nosso cérebro é um gaveteiro. Como guardamos as coisas e deixamos elas engavetadas por tempos e tempos, arquivamos também os sentimentos, as alegrias, as dores, os conhecimentos. A diferença é que os espaços externos são bastantes manejáveis. Abrimos, fechamos, trocamos seus conteúdos, rasgamos papéis, doamos roupas, brinquedos. Nossa mente é menos controlável. Os registros são indeléveis, as gavetas são infinitamente profundas, a arrumação é complexa.
Por isso, pensamos duas vezes antes de assistirmos àquele vídeo sangrento, de ouvirmos determinados testemunhos, de conhecermos algumas verdades. Escolhemos. Nem tudo, porém, podemos manobrar. O filho chama, o país entra em guerra. Tristeza.
Também há o inesperado positivo. As oportunidades, os encontros.
Bom e ruim sempre haverá em tudo. Como se diz, nada é 100%. Lembremos de, vez em quando, externas e internas, tentarmos ocupar-nos sobre cada gaveta disponível em nossa casa, trabalho, mente. Abra aquela esquecida. Guarde, arrume outras coisas nas mais vazias. Doe, desfaça-se, desapegue (expressão na moda) do que for para desapegar. Reflita, lembre, medite e conclua que suas gavetas (e seus conteúdos) são muito importantes, mas virão novas.
Arrume a bagunça. Abra espaço para o novo (como sua mãe diz –, e a minha também). Sempre.  

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