A gestação do ser humano
não é a mais longa dos viventes. Pesquise e descubra o grande número de
espécies com durações maiores. Por exemplo, a elefanta asiática (22 meses) e a
salamandra alpina, que não coloca ovos, como a maioria dos anfíbios, mas passa
3 anos e 2 meses com seus filhotes desenvolvendo-se no próprio oviduto.
É que o homem tem o tempo
como forma-abstrata-relativa-incompreensível. É ansioso, em outras palavras.
Tem receios. Nove meses, principalmente o último, são uma eternidade. Todos os
dias contam. Para o pai e para a mãe. Se tudo caminha bem que bom, porém, poxa
vida, ainda não nasceu. Não vi sua carinha, não o senti em meus braços.
Mais: a gestação é tão
mágica que sentimos que o útero é a própria cartola preta. Crianças, ficamos,
por mais cuidadosos e atentos, apreensivos pela saída do coelhinho. Inteiro.
São e salvo. Até que o “truque” (se é que cabem aspas em procedimento de dedos
e dedos de dilatação) termine ainda não acabou (como dizem nas crônicas
boleiras).
Então, a pele flexível do
ventre é moldada, esticada pelo rebento ativo. Chutes, empurrões, ajeita daqui,
dali. Tudo, literalmente, à flor da pele da mulher. O pai é apenas espectador.
“E como é isso? Dói? Tudo bem? E agora, tudo bem? Continua tudo bem? Encaixou
mesmo? Segura o moleque aí dentro mais um pouco, meu Deus.”
Tudo bem. A continuidade
da espécie depende desse ritual. Aguardemos, fiquemos felizes e tranquilos. Uma
nova vida virá. Indefesa, mas com todo o necessário para seguir em frente e
perpetuar a humanidade. Assim esperamos.
O resto – sim, claro –
descubra você mesmo. Como diz minha vó: se não tê-los, como vê-los? Quem sabe
um dia essa pergunta também o instigue. Tomara. Vale a pena. Semeie, meu caro,
minha cara.