10.3.15

Lá.

Entrou. Já há alguns anos lá frequentava. Não encontrou muitos jovens, como ele, nem crianças. São raros, na verdade. Adultos, pessoas de mais idade, cheios de lamentos, ritos decorados e confiança cotidiana.
O lugar, de manhã, tem particular silêncio e paz. Os bancos não ficam cheios, pelo contrário. Ele procura estar próximo de alguém. Não gosta de sentar sozinho. Acredita que seja local de comunhão também entre os humanos.
Não conhece bem o ritual. Não pode comungar. Estuda, se aproxima, familiariza-se. Chega mesmo a entrar na fila – até seu final. Pensa que Deus está além das palavras terrenas, sente seu próprio chamado, antecipa degraus. Quer voltar a eles e cumpri-los, porém.
Os mais velhos vem sempre. Em geral, desde pequenos acostumados com a missa, sabem quando há reverências, quando será aplicada aquela ou aqueloutra “fórmula”. Conversam com o sacerdote, ajudam com as atividades da Igreja.
É uma comunidade. Há encontros para rezar o terço, para estudar a doutrina, para formar novos fiéis, para prepará-los aos sacramentos. São organizadas e desfrutadas festas paroquiais.
Nem sempre há movimento. Átrios vazios, capelas silentes. A tradição de cantos, rezas e celebrações é rígida, tem dias e horários, duração, cores e envolvidos previamente determinados. Antes e depois ninguém ou poucos. Conversa íntima, atenção autodisciplinada.    
Há pequenas diferenças, pois humanas. Mas, o cerne é esse mesmo: a repetição, a habitualidade, a confiança, a integração, a celebração, a fé e a fraqueza humana. Sobretudo a fraqueza. Nossas limitações, sofrimentos e lamentações. Que não demos as costas a estes. Vá à Igreja, meu irmão. Verá que sempre há caminho possível, melhor, pacífico, cristão e feliz.
Nem por isso ele sempre está em paz, feliz e saltitante. Reconhece, no entanto, a máxima da filosofia: só sei que nada sei e nem tudo posso, mas tudo posso explicar e nada é impossível.

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