O rapaz chora. Vem aquele arrepio profundo, vivo. Espécie de calafrio, medo. Uma sensação de todo ruim, dizem. Será?
Tema difícil. Proibido. Como aceitar qualquer movimento para a auto-destruição ou para fazer mal ao seu semelhante, só para sentir prazer?! Isso existe. Se chama sadismo, e pode ser praticado contra si mesmo. Pior: é mais comum que se imagina. Todos têm e, se não ficarmos atentos, praticamos sem sequer percebermos.
Não estou falando de se jogar contra a parede ou torturar alguém, embora esses casos extremos, sabemos, também existam, infelizmente. Penso nas pequenas ações, como dizer aquela palavra a mais para a pessoa ou buscar situações limítrofes que certamente trarão sofrimento a nós mesmos. Não o físico. Esse é mole. O corpo se apaga sozinho no ponto insuportável. Mas, a dor espiritual. Os sentimentos.
Exagerei? Já ouviu falar de Blues, claro. Esse estilo musical é famoso por suas notas profundas, arrastadas, sim, tristes. O bluesman é o cara que se deu mal na vida, não vê perspectivas para o futuro. E toca sua guitarra com muito prazer, nesse clima deprê.
Os jornais. Esses você deve conhecer melhor. Esprema eles um pouco. Já tentou? Saiu sangue? Então, não devia ser muito popular, vendável. Notícia boa, com conteúdo, não vende. Não estampa a primeira capa, não tem destaque. Já a manchete de desgraça, de crise econômica, de desastre. Essa vende como água. Confira sobre a vida das vítimas do acidente aéreo. Vixe. Fila na banca de jornal.
É assim, meu caro. Vergonhoso? Você quem sabe. Cada um com seu jeito de sofrer e sentir prazer. Será? Ou todos somos meio parecidíssimos?! Hahahaha.
Sobre o autor: Piero de Manincor Capestrani é advogado. Também é pai, filho, neto, sobrinho, tio, irmão, do Espírito Santo, amém. Adora escrever e ler. Não conseguirá ler todos os livros, mas continuará tentando. Sobre o blog: Escrita MCP nasceu em maio de 2013. Forma natural do transbordo da escrita. O papel se sente tão solitário na gaveta. Pede mais. Não há só literatura, nem só Direito, nem só desenhos, fotos, vídeos. Nada só. Tudo sobra.
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