8.3.17

Capítulo vinte e sete

Está cantando? Ah, sim.
"Quando a Morte chegou falei que não.
Não, não não não não, dona Morte.
Preciso engraxar meu sapato, enfeitar minha mochila, comer o pudim.
Se viajo para longe quero ao menos terminar minha crônica.
E ela disse talvez, posso aguardar mais um dia. Me diga, porém, pois quero saber onde encontrarei você.
Só dobro a esquina três vezes. Subo dois lances, descarrego o dia, cumpro a lista e retorno ao mar. Lá mergulho e desdobro a folha.
Leio a prosa, caminho de volta por outras curvas iguais. Termino em casa, sapato calçado, cabelo riscado, escondido na varanda. Deve me achar.
O Fim não veio. Mandou ajudante. Vamos que já é hora, falou. Meu trato foi com a sua chefe, rapaz. Descaso qual é esse?! Não pode vir, está com dores fortes, coisa de mulher. Também estou indisposto hoje para morrer. Não vou mais. Fale com ela, meu cupincha. Fique aqui, então. Não saia nem morto, viu?!
Dia seguinte o encontro frio com ela. Homem difícil, aí está você. Dar trabalho para a morte, onde já se viu?! Mas, respeitou os pedidos e sua escrita me pegou de jeito. Não tive dores, mas calores. Prefiro você vivo. O povo do meu lado também leu e querem mais textos para a Revista das Coisas de Lá. Aproveite. E foi embora. Puff. Fiquei."
Uia. Cantou muito esse samba antes de vir para cá? Duas vezes por noite. Adoravam. Mas, não dava para pagar as contas. E veio para cá?! Desistiu. Ah, amanhã desisto dessa patota. Já ouvi outras histórias como a sua. Isso aqui é um cadafalso de desilusões. Vamos? Opa, não. Sabe-se lá quando ela vem. Aqui vivo mais. Engano seu. Ela te poupou porque você tinha algo para viver. Um propósito, meu caro. Amanhã você vai embora comigo daqui e não tem acordo. Foram.

2 comentários:

  1. Ficou ótima a crônica! E se a morte vier, ela que espere. Também tenho muito a fazer por aqui.
    Parabéns!

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