No banco do parque as duas
conversam. São bonitas, jovens, solteiras. Querem casar, ter filhos, um bom
lar. Ele senta. Silenciam por um instante. Olham. Ele não disse nada. Só olha
para a represa em frente. “Vamos embora”, sussurra Elisa. “Não, temos tempo.
Por que ele sentou aqui? Quero saber.” “Essa é boa. Só pode ser por interesse
em nós.” “Ótimo. Talvez tenha algo a dizer.” “Oi”, diz Carolina. “Oi”, responde
Umberto.
As mulheres, como os
homens, sentem-se mais confiantes acompanhadas. Natural. Duas cabeças tendem a
gerar mais ideias do que uma – como diz a sabedoria popular.
Umberto havia saído de
casa para passear. Distrair-se de si próprio e do tédio de mais um sábado sem
convites, sem compromissos. O parque da represa e seus bancos sombreados
pareciam bons.
As duas amigas precisavam
se encontrar. Eli morreria se não pudesse conversar com Carol sobre o garoto
que havia conhecido no clube. O encontro era obrigatório.
Beto poderia sentar no
primeiro banco. A sombra o alcançava. A árvore era alta e com a copa cheia o
suficiente. Mas, tão bela ele não chegou sequer a pensar: sentou ao lado –
mudo.
“Meu nome é Umberto.” “Carol.”
“Só Carol?” “Carolina.” “Conheci uma só Tati. Perguntavam a ela se era “Tati”
ou “Sótati” (risos).” “Puxa.” “É. Diferente.” “Está sozinho?” “Sim. Venho aqui
passar o tempo. Quando não tenho o que fazer.” “Carol. CarOoool.” “Eli.” “Interrompi
vocês, desculpe. É que, é, não sei.” “Não, tudo bem. Já tínhamos conversado o
necessário (era mentira, Eli mal começara a cantar mais uma de suas “conquistas”
amorosas).
A conversa prosseguiu – em
dois. A menina da ponta retirou-se sem dizer nada, bruscamente. Acharam ótimo.
Beto contou que gostava muito de ler. A biblioteca dos pais, no alto da sala de
TV, era buscada ao subir no sofá em “u”. Escolhia livros aleatórios e conhecia
romances de verões, famílias estranhas, aventuras e histórias de terror. Tinha
orgulho de ter lido tantos livros. Sentia prazer nessas horas. Nesse espaço.
“Por que não sentou em
outro banco?” “Achei que aqui seria melhor.” “Por minha causa?”
As mulheres (os homens
idem) são vaidosas. Gostam de elogios.
Marcaram na praça
principal para um sorvete. As oito Beto esperava nos bancos estrelados (pelas
árvores plantadas ao redor em linha de estrela). Ela chegou oito e cinco. Feliz
Beto. Tão difícil aguardar garotas.
Ela sentou bem perto.
Vibrou. Estava apaixonado. Pouco conversaram. “Sou novo na cidade; adoro o som
do trem, bla bla bla bla.” O assunto morreu. Olharam-se (risos). Beijaram-se.
A história é singela.
Porém, você “gastou” seu tempo lendo-a. Por quê? Esperava mais? Não tinha nada
melhor para fazer, o título “enganou” você? Já sei: estava com tempo de sobra.
Leu. Tenha certeza que o tempo que gastou foi muito menor do que eu levei para
escrevê-la para você. Sim, para você. Ora, a publicação admite a entrega
escritor-leitor. E, pense bem, ao escrever palavras legíveis em um caderno o
sujeito publicou sua história. Talvez, é verdade, ninguém a leia até que o
registro, seja como for, se perca. Ou não. Ele decida republicar em outros meios
físicos ou digitais mais acessíveis. Até mesmo incentivar a leitura. Não é
fácil. Quem lê mais de algumas linhas necessárias hoje em dia? As tarefas do
colégio, da faculdade. Preferem os vídeos engraçados, programas de TV, música.
Os livros, textos – “boring” (chato).
Mas, falemos um pouco
sobre o título, afinal. Pensei nele dia desses e cheguei a, mentalmente,
escrever algo. Contudo, esqueci o rascunho. Acontece. Temos grandes ideias e só
isso. Elas se perdem como começam. Sem problemas, no entanto. Somos capazes de
ter outras. Ainda melhores. É a maturação do pensamento.
O tempo é simples. E é
complexo. É tudo e é nada. Senhor e esquecido. A resposta, a pergunta. Enfim, é
o mistério. Clichê. Eu sei.
Abstrato, pois não é o dos
relógios, concreto. É o dos feriados, breve. Abstrato. Da origem do Universo.
Do seu fim. Início? Inteligível porque não conhecemos. Não ensinam nas escolas
o “x” da questão, o pingo nos “is”. Não. “E eu devo conviver com isso”, posso
pensar. Conviver. Passivamente. Tome seus remedinhos. Distraia-se como puder.
Viva. Esqueça o tempo. Não se preocupe com respostas. Não podemos, ou melhor,
não devemos sabê-las. Esse o sentido da vida: não saber as respostas. Nãããão.
Quero saber. Mas, não sei. O tempo é abstrato.
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