11.11.21

Arte poética, de Adília Lopes (texto e vídeo)

Escrever um poema 

é como apanhar um peixe

com as mãos

nunca pesquei assim um peixe
mas posso falar assim
sei que nem tudo o que vem às mãos
é peixe
o peixe debate-se
tenta escapar-se
escapa-se
eu persisto
luto corpo a corpo
com o peixe
ou morremos os dois
ou nos salvamos os dois
tenho de estar atenta
tenho medo de não chegar ao fim
é uma questão de vida ou de morte
quando chego ao fim
descubro que precisei de apanhar o peixe
para me livrar do peixe
livro-me do peixe com o alívio
que não sei dizer

Adília Lopes, in 'Um Jogo Bastante Perigoso'

Link do vídeo com minha declamação:

https://youtu.be/1LAVpCQKjqY

Projeto de Luciano Gomes, professor da rede municipal de Barueri SP 

:-)





6.11.21

Resenha: O mundo não é mais... (André L P Trindade)

 

 Vivemos tempos, talvez mais do que nunca, preocupantes. Mudanças climáticas, doenças muito agressivas, ameaças de guerras.


 Sim, já houve, na história da humanidade, momentos desafiadores. Foram superados. A paz retornou, construções foram refeitas, novas vidas geradas. Sempre serão?!


   A obra do meu amigo André Trindade vale ser lida. Os temas atuais citados são levemente e agradavelmente discutidos durante uma bela narrativa de suspense, de romance e de discussões transcendentais.


   Afinal, o tempo existe? O que é o avanço cultural, tecnológico? O ser humano, através do tempo, saberá lidar com todas as questões humanas e ambientais, como o controle populacional, os cuidados com a natureza, as viagens ao espaço, as curas das doenças, a comunicação falada?


   Será?! Leia o “O mundo não é mais...”. Caso nem todas essas dúvidas sejam resolvidas, ao menos, e isso é importante, você, novamente, pensará nelas. E evoluiremos. O conhecimento, a literatura, a história, a filosofia são incríveis “armas” de evolução humana. E o livro do André tem tudo isso de sobra.


   Nada como um livro escrito por um historiador curioso (e poeta) sobre outro historiador também curioso (e também poeta), o Jovi (apaixonado pela francesa Babeth).

 

O mundo não é mais onde,

nem quando...

E quando foi?

Até onde?

O mundo, não; é mais!

O mundo é onde imaginarmos.

É todo onde quanto pensarmos.

Pensamentos fractais.

Acumulando, sem parar...

Dá pra calcular?

Não mais.

Mas...

E nós?

Continuamos não conseguindo ser?

Ser é transcender,

a sós.

É ir; dar-se para ter;

Desvertir-se em gritos para ver!

Mas, cadê a voz?

Transcender, espera-se, humano seja.

Humano, humanos...

Está em nós!

Veja!

Quando?

Sempre, em mim, em ti, em vós:

em si mesmo, desde que seja.

Seja lá quando, desde o onde

Mas onde, se o mundo não é mais?”

 

  Ficou curioso, né?! Essa é a ideia. Boa leitura, meu caro. Depois me conte o que achou.

   Um abraço. Volte sempre.

 



2.10.21

Resenha. Parto da coisa, de Sandro Capestrani.

 


Parto da coisa é mais uma bela obra de Sandro Capestrani. Gostei muito, sinceramente.

Sou suspeito, claro. Porém, é uma opinião muito fácil de ser confirmada. A dedicação, o talento sobram. O livro é resultado de amorosa atenção às letras.

Meu pai, sempre, foi (e ainda é, graças a Deus) uma pessoa muito meticulosa. Como o farol, guia dos navegantes, foi conquistando e incentivando sucessos por onde passou: trabalho, família, esporte, literatura. 

Fico feliz de poder presenciar outro “parto” das ideias dele. 

A poesia, como muitos defendem (e eu concordo) é a arte literária mais intrincada. Um bom poema é algo muito, muito difícil de criar. O que dizer de, então, cinquenta bons poemas, em um mesmo livro?! 

Engana-se quem pense nos versos, primordialmente, como algo dourado, belo. Não. Deve-se, antes, dizer. A literatura, como muitos escritores já disseram (por exemplo, Graciliano Ramos), serve para comunicar algo e não para brilhar como ouro falso. A poesia, pelo seu notório poder de síntese, intimidade, detém um potencial sensível de transmissão de ideias: pode dizer muito com pouco.

E assim é que você deve ler poesia. Não espere, aliás, decifrar tudo o que o poema quer dizer (por vezes, nem o poeta ainda descobriu). Faz parte desse gênero deixar para o leitor algo oculto, indecifrável. Eu, por ser filho do autor, talvez, perca um pouco da força dos “não ditos”. Mas, nem sempre, nem sempre. Os poemas estão muito bem costurados, pensados. Tenho certeza que você terá boas reflexões sobre seus significados. Boa sorte. Boa leitura.   

É isso. Parto da coisa-livro para a lousa-folha com o orgulho de filho-leitor-escritor-tiete.

Enfim, leia.


Do capítulo "Prefácio possível"

III

bem mais que gostar

um poema é

deslumbrar-se com

uma coisa e querê-la

sob posse mansa

nada pacífica

porquanto uma inveja

quase cega


recompensa

e pena

degustam-se

no mesmo gosto

22.6.21

breve manual do erro. como aprender a errar em 7 passos certos.


1) o que é o erro? 2) como lidar com o erro? 3) errar faz parte do caminho? 4) qual o limite do errar? 5) é possível aprender com o erro? 6) e com o acerto? 7) existiria o acerto sem o erro?


1) o erro é o oposto do acerto. se há um círculo para a bola entrar e esta bate no aro erramos. se a alternativa é “a” e marcamos “b” erramos. há o erro grosseiro (o famoso “air ball” – a bola não bate nem no aro, nem na tabela, nem nada rs), e o quase (quica, quica e não entra). mas, erro é erro. esses, diga-se, são os objetivos. há, também, os subjetivos. os erros relativos. não errei, você quem errou. e vice-versa. mas, veja, há, novamente, sempre, o erro. o erro, enfim, claramente existe.


2) errei. posso tentar novamente? pode. devo? deve. passa a bola. pergunte novamente. errei. tente de novo. ok. errei. mais uma vez. errei. burro. não, por favor, não. errar uma vez é humano, duas também, e três, e quatro e quantas forem possíveis. sim, se o erro existe é porque ele deve existir. tente de novo. e de novo. nunca, nunca abaixe a cabeça sem a levantar, imediatamente, em seguida. erre, erre, erre. 


3) caracoles, claro que sim. errar é super, super importante. aprendemos mais, muito mais com o erro do que com o acerto. o polo positivo repele seu igual positivo, mas atrai o negativo. o acerto, e não poderia ser diferente, depende do erro. o caminho, então, é claramente errôneo, difuso, instável, até tornar-se, por um breve momento, certo, suficiente e, logo após, tornar a errar, relaxar. o erro faz, sempre, parte.


4) não há limite. errei. errei novamente. e outra vez. e, caramba, outra. é, isso não é para mim, erro demais. não. sim, tudo é para você. tudo. tente novamente. não há limite para errar. nunca aceite o erro. tente de novo, e de novo. persista.


5) com certeza. se há algo certo, por mais contraditório que pareça, é o erro. muito mais fácil reconhecer o erro do que o acerto. muito melhor aprender com o erro do que com o acerto. este é breve, muito breve. acertei (as outras, já sei, estão erradas). o erro prolonga-se. errei, porque não acertei. há o errar, pois há o acertar. o inverso, não necessariamente, é verdadeiro. se você acerta a cesta, pronto, ponto ganho, vitória. o jogo acaba. se você erra, epa, o jogo continua. segue-se, de forma instantânea, o impulso da reviravolta, da fúria, da vontade de acertar. questão certa. fui certeiro na alternativa correta. ótimo, manda outra. errei. a alternativa era outra. entendi, errei porque marquei uma e não outra. percebe? opa, acertei, ótimo. opa, errei, novamente. e novamente. então, é essa outra. ok. o caminho é, infinitamente, potencialmente, maior.


6) sim, evidente. acertei. não era aquela, nem outra. cesta. pronto. passe-me, de novo. nova cesta. ótimo. e outra. você não erra. isso é incrível. 100% de aproveitamento. continue assim. para 10 acertos são necessárias, sempre, 10 tentativas, ao menos. então, sim, é possível aprender com o acerto. se há o acerto, aliás, há, invariavelmente, o não erro. só há o certo porque já, algum dia, houve o erro.


7) é isso. não há, nada, se um dia não houve. opa, cumé?! o tudo depende do nada. 0, 1, 2, 3, 4, e assim por diante. o acerto só existe porque, antes, existiu o erro. ou é o inverso? acertei. isso é o certo. errei. isso é o errado. o tudo, o nada. o nada, o tudo. a ordem dos fatores altera o resultado? 


depende de quantas vezes tentar – sempre.