Laís acordou com uma grande dúvida. Usaria amarelo ou verde para o encontro com Joãozinho? Se verde, o chapéu novo, com o laço grama. Se amarelo, as sandálias com as flores canárias da terra. Lembrou por acaso que usava o calçado quando conheceu Gustavo. Seria o verde, definitivamente. Mulher marca o homem com ferro em brasa.
O salão estava quase vazio. Essa coisa de fazer São João em cada esquina. Lá atrás era só o da Matriz. Povo todo largado na praça. Joãozinho tirou o chapéu. Êta homem educado. Laís sorriu, acabrunhada. Dias de conversas, olhares. Quando há amor não há pressa. O sabor faz lento o creme de vento. Dançaram quadrilha. Fim da festa Joãozinho acompanhou ela até o largo da sua casa. Olhos. Aproximação. Encaixe de corpos. Mãos. Beijos.
Cresceram. Casamento. Natanael é nato. E Luci. E Joana e Turmalina.
Mais uma. Não, só meio copo. Não limpa essas garrafas, Zé? Muito pó. Se limpo, elas sujam. Limpa de novo, ué. Não limpo. E você? Limpe esse copo, Joãozinho. Já cansei de você chegando quando o bar está para fechar. Hehehe. Capaz. Não voltava, sabe. O pó volta. Dorme. Lá em casa não. A Laís não deixa. É maníaca por limpeza. Todo dia diz que encontra um lugar nunca limpado. E conta que há pó entre a Bíblia e o gato de porcelana que ganhei da minha mãe, pó debaixo do tanque, atrás dos vasos das azaleias, em cima da murça. Por todo lugar, Jó. Diz ela. Não há como vencer. Se tiro de lá vem cá, se cubro, ele recobre, se molho, ele gruda, se ponho de cabeça para baixo, grudo no teto, ele ri do chão, escala o ar, faz estalagmites. Dá umas férias para sua mulher, João. Hahahaha. E ela guenta?!
É melhor deixar o pó das garrafas. Me convenceu. Sabe que até fica bonito?! Claro que sei. Se fosse para aguentar todos vocês que me aparecem aqui virava psicólogo, tocar um boteco veio exige muito pó, não é para qualquer um.
Bem, falamos muito já e eu nem tomei essa cachaça. Lá vai. Pronto. Fui, Zé. E devagar, para deixar esse pó pelo menos aqui repousar. Dê um abraço na Maria. Diga que a Laís a espera na quinta-feira para o chá. São as horas da poeira de casa. Quem guenta?!
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