XXX. Nermo.
Ei-la, a caneta
tinteiro. Se não usada com freqüência ela seca rapidamente. A esferográfica já
dura mais e a um simples risc risc ela pega. A velha tinteiro demanda um nhec
nhec de desentupir e recarregar a tinta (que precisa estar à mão).
Nermo também é assim.
Sem visitas, sozinho, fica triste e precisa ser reanimado. Quase uma ressurreição.
Eis Nermo, de volta. Em
uma manhã de primavera. Silêncio no bosque e friozinho de mato. Sol nascendo e
nuvens já levemente douradas ao céu azul da manhã.
Novidade. Nermo se
inscreveu em um curso de contos. Uff, agora vai. Será?! Vamos torcer. Quem sabe
ele não aprende umas boas técnicas e dá fôlego à história que ele pretende
criar, não é?
O curso será com um
ilustre (ao menos, para ele) escritor: o neto de Graciliano Ramos, o escrevinhador
infanto-juvenil (que também vem se embrenhando no ramo adulto) Ricardo Ramos
Filho.
Ele não vê a hora de
participar do curso. Isso aí, Nermo. Bravo. Nos vemos por aqui. Aquele abraço.
Fui.
XXXI. Sujeito na feira.
O personagem limpou a
caneta entupida (já não mais) e principiou a escrever. Era noite e ouvia um
disco de vinil de antigas canções de ninar. Ao mesmo tempo, pensava na criação
de um personagem complexo e na dificuldade da empreitada. Ponderava que a razão
nascia da pouca complexidade de sua vida, de suas relações. Ou da sua curta
história (era jovem nosso personagem). Complexidade, pois ouvira esses dias que
a prosa literária deveria ter personagens complexos, misteriosos, profundos.
Sabe lá. A segurança na escrita, realmente, não é algo instantâneo, originário.
Há que suar.
O personagem,
entretanto, tinha um amigo, um ambiente e um acontecimento.
Aquele gostara das
novidades tecnológicas e tinha enorme paciência para decifrar os caminhos dos
jogos e programas dos mais novos computadores e vídeos-game. Conseguia. E se
divertia com isso. Também era amistoso com as pessoas e adorava o ar fresco.
Era um cara legal.
Ele mesmo, para aqueles
que gostam do sentido da visão, passava a máquina naqueles cabelos que crescem
na nuca e bagunçam a estima do penteado curto e comportado. Fazia isso em seus dormitórios
(foram vários) sempre organizados, limpos e enfeitados com artesanatos manuais
dele próprio. O sujeito era prendado.
Em um lugar de
encontros persistentes de tolerâncias passageiras ele acreditava no amor de uma
mulher.
Mulher de encantos
abstratos e personificados nas veleidades do nosso complexo personagem.
Companheira de complexidades particulares cercadas de novidades sortidas.
Juntos. Aquele e
aquela. No topo de um universo em infinita mutação, com planícies enjoativas,
serras emocionantes e cidades-labirinto.
Onde moravam, terça-feira
tinha feira. Legumes, frutas, cereais e tudo o mais. Ela gostava de começar
pelas frutas, ele pelas hortaliças. Depois de um pepino e uma bela manga iam
para a barraca de caldo de cana. Dilicia. Isso se fosse um dia normal.
Feira não tem
facilidades. Inícios e fim se confundem e nos perdemos entre a melancia e o
almeirão. Ele disse que iria chover, que hoje não iam para a feira. Início de
madrugada, porém, não tem volta e os feirantes andam nas vassouras das bruxas
mais bravas. Ela, sem bolas dar, disse que sim, feira com certeza faria.
Horas voam, vento
sopra, ar e mais ar. Lá estavam nossos queridos na feira. Ele com o alface, ela
com o caju.
Mas, o fenômeno meteorológico
não engana, nesse dia, poucas horas de feira e a chuva caiu. Melhor, desabou.
Não. Não a água que imunda seu cérebro. O conflito dele com ela e a feira de
sua vida. Choveu. A feira fechou antes de abrir. Portas desceram da vizinhança
e abriram na estrada. Viajou. Conheceu (tinha que conhecer) outras feiras e não
mais voltou.
Sujeito é sujeito na
feira. Feiras são tantas, encontramos por aí outras couves e feijoadas esperam
para ser preparadas por um amigo, em um ambiente e em um acontecimento. Não se
esqueça de mexer bem e botar os litros de água disponíveis. Dilicia.
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ResponderExcluiróia. essa foi rápida no gatilho. comentou antes que eu. valeu querida. :-)
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