2.10.21

Resenha. Parto da coisa, de Sandro Capestrani.

 


Parto da coisa é mais uma bela obra de Sandro Capestrani. Gostei muito, sinceramente.

Sou suspeito, claro. Porém, é uma opinião muito fácil de ser confirmada. A dedicação, o talento sobram. O livro é resultado de amorosa atenção às letras.

Meu pai, sempre, foi (e ainda é, graças a Deus) uma pessoa muito meticulosa. Como o farol, guia dos navegantes, foi conquistando e incentivando sucessos por onde passou: trabalho, família, esporte, literatura. 

Fico feliz de poder presenciar outro “parto” das ideias dele. 

A poesia, como muitos defendem (e eu concordo) é a arte literária mais intrincada. Um bom poema é algo muito, muito difícil de criar. O que dizer de, então, cinquenta bons poemas, em um mesmo livro?! 

Engana-se quem pense nos versos, primordialmente, como algo dourado, belo. Não. Deve-se, antes, dizer. A literatura, como muitos escritores já disseram (por exemplo, Graciliano Ramos), serve para comunicar algo e não para brilhar como ouro falso. A poesia, pelo seu notório poder de síntese, intimidade, detém um potencial sensível de transmissão de ideias: pode dizer muito com pouco.

E assim é que você deve ler poesia. Não espere, aliás, decifrar tudo o que o poema quer dizer (por vezes, nem o poeta ainda descobriu). Faz parte desse gênero deixar para o leitor algo oculto, indecifrável. Eu, por ser filho do autor, talvez, perca um pouco da força dos “não ditos”. Mas, nem sempre, nem sempre. Os poemas estão muito bem costurados, pensados. Tenho certeza que você terá boas reflexões sobre seus significados. Boa sorte. Boa leitura.   

É isso. Parto da coisa-livro para a lousa-folha com o orgulho de filho-leitor-escritor-tiete.

Enfim, leia.


Do capítulo "Prefácio possível"

III

bem mais que gostar

um poema é

deslumbrar-se com

uma coisa e querê-la

sob posse mansa

nada pacífica

porquanto uma inveja

quase cega


recompensa

e pena

degustam-se

no mesmo gosto