Graciliano Ramos

Colaboração do apoiador Sandro Capestrani. Boa.

Então vai um poema do João Cabral de Melo Neto para:

"GRACILIANO RAMOS

Falo somente com o que falo:

com as mesmas vinte palavras

girando ao redor do sol

que as limpa do que não é faca:

de toda uma crosta viscosa,

resto de janta abaianada,

que fica na lâmina e cega

seu gosto da cicatriz clara.

*

Falo somente do que falo:

do seco e de suas paisagens,

Nordestes, debaixo de um sol

ali do mais quente vinagre:

que reduz tudo ao espinhaço,

cresta o simplesmente folhagem,

folha prolixa, folharada,

onde possa esconder-se a fraude.

*

Falo somente por quem falo:

por quem existe nesses climas

condicionados pelo sol,

pelo gavião e outras rapinas:

e onde estão os solos inertes

de tantas condições caatinga

em que só cabe cultivar

o que é sinônimo da míngua.

*

Falo somente para quem falo:

que padece sono de morto

e precisa um despertador

acre, como o sol sobre o olho:

que é quando o sol é estridente,

a contra-pelo, imperioso, 

e bate nas pálpebras como 

se bate numa porta a socos."


Para você, que é discípulo do Graciliano, o olhar de um poeta pernambucano, do livro Serial. Veja se você reconhece o romancista na voz do poeta. Eles têm muito em comum, eu acho.

Bj

 
Reconheço, claro. O Velho Graça extraia muito das palavras. Como ele mesmo dizia era preciso enxaguar, bem torcer a roupa e repetir de novo e de novo. Seus textos, realmente, são trabalhados. O resultado é são verdadeiras esculturas literárias. Salve.

Mas, veja bem, Seu Sandro. E aquele poema que você escreveu para o João Cabral de Melo Neto? Pense em publicá-lo aqui. Se precisar para algum concurso eu apago temporariamente a publicação. Abraço. Obrigado pelo apoio.

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