31.12.13

Crônica de 2014 ao amigo 2013.

Em cartaz ‘A vida secreta de Walter Mitty’. A película é dirigida por Ben Stiller, também o protagonista de vida monótona e sem riscos, Walter Mitty.
O filme é uma beleza.
Sinopse: as sinopses de longas-metragens, principalmente os “trailers” que insistem em mostrar diversas cenas e suas sacadas e acabam contando muito do filme e estragando a surpresa de cenas inteiras, têm dois aspectos: cumprem seu papel de “teaser” e levam os interessados pelos trechos às salas de cinema, mas o inverso também é verdadeiro, ao ler a sinopse ou assistir ao “trailer” o sujeito pode construir um pré-conceito bastante que o levará longe da telinha.
Por tudo isso e porque já assisti filmes sem pistas, a não ser o nome, e gostei (do ato e do filme) – o que não significa que isso dará certo com você – não vou dar o resumo do filme.
No entanto, já que a crônica começou por ele: ri muito, gostei das imagens, da trama e do desfecho. Recomendo.

Essa obra de arte (o cinema é uma arte em tanto) tem uma ligação muito grande com os primeiros capítulos de um livro que estou lendo: ‘Confissões de um jovem romancista’, de Umberto Eco (autor de ‘O nome da rosa’, que virou filme).
(Livros. Livros, além da possibilidade de conterem o resumo, não são incomuns as pequenas resenhas ou as indicações apaixonadas. Tudo bem. O livro exige muito mais de seu consumidor, tema, aliás, tratado nesse livro de Eco).
Umberto, que já era um exímio pesquisador da Universidade de Bolonha quando publicou seu primeiro livro (aos quase cinqüenta anos), ‘diz’. Revela, com verossimilhança, como construiu seus romances.
Concordo com ele em muitas passagens. Seleciono uma, justamente a que afere o sexto parágrafo dessa crônica.
Antes, retomo a advertência recente (http://escritamcp.blogspot.com.br/2013/12/auto-conselhos.html). Vale conferir.
Escrever o texto, o velho Graça já dizia (http://escritamcp.blogspot.com.br/2013/05/iii.html), demanda conhecimento sobre o assunto. Umberto Eco vai além. Compor pede o objeto de composição, um método, algumas restrições textuais (não no sentido gramatical, mas no criativo) e detalhes, muitos detalhes. E para se obter com louvor todas essas pedrinhas preciosas vá ler, andar por aí (viajar, se sentir necessidade), conhecer pessoas, enfim, viver.
O novo ano sucede o outro e o anterior do anterior e assim por diante. O texto, seja poesia, romance, conto, crônica etc., precede a vida.

Feliz Ano Novo, queridos. Aquele abraço.


28.12.13

Auto-conselhos.

Pedido de menos adjetivos para dizer, não para enfeitar. Definição, não a incerteza. ‘Um’, ‘uma’, ‘uns’, outro dia. Hoje o ‘a’, ‘esse’, ‘ele’. Sons e palavras variadas, senão tonteia.
Tudo isso tem sentido, obrigado. A criação (sobretudo, a minha), porém, tem outro sentido. Crivar, verbo transitivo direto, não pede uma pré-posição. Fico com a minha mesmo.
Transcorrerei um caminho mais longo (talvez), contudo ouso supor que a criação depende da ação e não da criação, senão é filha e não mãe.
Não estamos sozinhos, então é certo que nos relacionamos e, mesmo que tentemos o contrário, é inevitável que soframos influências várias. Que elas sejam naturais, advirto.
Mais: discorde. Não assuma a verdade dos outros. Crie a sua.

Ao final, claro, duvide do que você mesmo diz e arrisque mudar – sempre.

                                                                                      MCP

27.12.13

XXXIV. Desenhos-histórias, XXXV. Início, XXXVI. Baixa produção e XXXVII. Ler.

XXXIV. Desenhos-histórias.

Lugares especiais foram escolhidos para esse começo. Afinal, tinha consciência do desafio. Não era a primeira tentativa. Sentia, porém, que era a hora.
Tinha lá meus 17 anos e um milhão de expectativas, emoções, histórias e dias de vida (muito mais que isso).
Sempre fora meio introspectivo. Gostava de ler, fazer meus desenhos-histórias num canto e, freqüentemente, me via distante do convívio social. Nunca havia sentido muito traquejo. Queria, mas não fazia parte de uma turma. Tinha cá e lá um amigo ou outro. A empresa, então, calhava. Solidão, tempo para traçar desenhos abstratos, concretos ou seja lá o que fosse diante de mim.
Foi assim que comecei.

XXXV. Início.

Frases em segura-cordões de saquinhos de chá. Cola, cola, cola. Outras frases. Pouca conversa. Receios. Pudor. Irregularidade. Amizade em construção. Testa, testa, curte, não curte, muda, erra, acerta, descobre. Sentido. Utilidade. Todas essas questões e vivências marcaram os primeiros 7 anos.
O primeiro ano foi muito importante. Foi firme. Marcou território para a escassez que vinha a frente. Foi um farol, uma pedra fundamental com função de base sustentadora. Precisava ser.
Passos simples, mas, uff, muito significativos. Época, diga-se, tensa e esperançosa. Boas mudanças que ocorreram logo e determinaram a profundidade necessária para a empreitada que até hoje se estende. Interesse em sua procura para apoio consciente e mutável na vida.
Claro, tudo isso nasceu no caminho. Nas necessidades, nas superações, na vontade, no gosto pelo projeto que crescia.

XXXVI. Baixa produção.

Como toda grande jornada (e isso não é clichê), tive anos de pouca massa. 
O determinante, creio com convicção, foram as suspensões (“sursis”) e ocupações decorrentes de grandes mudanças.
Que bom. Mesmo assim a empresa deu certo. Uma companhia que cumpre seu papel até pela baixa produção.
Com a firma (como sempre foi e será) minha vida continuou seu curso. Como dizem: 'depois da tempestade sempre vem a bonança'. Sim, veio. Anos de muita fartura, confiança, alegrias e otimismo. Viagem – vivência muito importante para os próximos anos. Trabalho relevante e gostoso. Pessoas influentes e marcantes.

XXXVII. Ler.

Interesses compartilhados. Experiências. São as fontes de muita leitura. Leio o livro que me conta. Conheço mais disso ou daquilo. As vivências fascinam tanto. Minha percepção sobre o filme do momento, o livro famoso e a bebida exótica interessam a você. Conta-me, caro, como é? Ora, experimente. Não. Diga-me se gostou. Gostaria de saber sua opinião antes.
Interessante. Emocionante. Chocante. Ante. Adoramos histórias. Contar. Recontar. Ouvir de novo e de novo.
Por quê? Pois, somos curiosos. Mais: sentimos que crescemos, nos alimentamos com palavras. Hum, que delícia de ‘reinava’. Sabor único esse ‘princípio’. Hoje devorei ‘pendia’. Ah, belo ‘topo’.
Mente farta agrupa, organiza e emprega sentidos. Lemos, ouvimos, somados, criamos. Simples. Natural. Tudo bem programado para funcionar queiramos ou não. Sabemos, aliás, que funciona. Bem procuramos a leitura.
Leia, caro.

24.12.13

Conto do Natal na Terra


Acordou, afastou os plásticos pretos da abertura lateral e divisou o começo de um dia diferente.
Silêncio humano àquela hora. Um canto de pássaro em lugar de gritarias e tábuas em prego.
Levantou-se e estranhou a limpeza na frente do barraco e nos arredores.
 – Bom dia. É Natal.
Caminhou um pouco.
Organizado o novo café da manhã coletivo: quem pudesse contribuía com algo e garantia o café do outro que aquele dia nada podia.
Outro tanto de passos e pessoas sorridentes distribuíam presentes às crianças e panetones aos adultos.
Um jovem conversava com o seu Zé sobre a vitória do velho em largar o alcoolismo e começar a trabalhar.
De repente, sonoros vivas para a notícia de que os traficantes da região haviam largado o velho comércio lucrativo e recomeçado a vida.
O próprio prefeito, graças ao bem sucedido convênio com empresas nacionais e multinacionais, vinha para empregar os chefes de família e os sozinhos em atividades remuneradas. Em tempo, viria luz, água, esgoto e tudo o mais que os ricos têm direito.
O ‘terrenão’, como era conhecido o local invadido, seria doado pelo proprietário que descobrira que podia seguir com sua fortuna sem essa terra.
Todos olhavam nos olhos dos vizinhos e dos transeuntes. Felizes. Uma nova vida iniciada.
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Conto de Natal?
Mas, não estamos na Terra?

Como no poema Pasárgada, de Fernando Pessoa, devemos pensar que tudo que é ruim pode ser melhorado por nós. Em pequena, média ou grande escala nossas ações reverberam. Diria mais: mesmo nossos pensamentos têm incrível força.
Ao menos no Natal que, graças a Deus e seu filho, tem todo ano, reflitamos sobre as nossas atitudes com o próximo.
O próximo no seu mais simples sentido: o seu vizinho, o seu colega de trabalho, o homem ou a mulher, criança, jovem, adulto, velho, doente, saudável, rico, pobre, amarelo, branco, negro, triste, feliz etc. que está na sua frente. O próximo.
Você respeita o limite dele? Ele respeita o seu? Você ignora a sua existência? Ajuda no que puder? Reflete sobre ele?

Não custa. É Natal, animal.

18.12.13

Cantorias de Adoniran Barbosa:

"Não seja bobo não se escracha, mulher, patrão e cachaça em qualquer canto se acha." (Mulher, patrão e cachaça - http://www.youtube.com/watch?v=ZxxM261ddhI

"Num relógio é quatro e vinte, no outro é quatro e meia. É que de um relógio pra outro as hora vareia." (Tocar na banda - http://www.youtube.com/watch?v=Gqi-iSliARQ

"Marquei com a minha nega às cinco, cheguei às cinco e quarenta. Esperar mais de vinte minutos quem é que aguenta?" (Tocar na banda)

Grande Adoniran.

16.12.13

XXXII. Enredo, plano. e XXXIII. Registrar.

XXXII. Enredo, plano.

Naqueles dias, Nermo já sentia comichão nos neurônios. Trabalhava para uma continuidade e pê pé pê parou. Cansei desse cara narrando o que faço e etc. Cá estou e não preciso mais dele. Assumo a minha história. Em primeira pessoa, eu, a primeira e única.
Bem, ele está certo, contudo. Andei pensando e decidi traçar um plano, um enredo, senão isso não vai acabar. Vamos até o capítulo XLV. Escreverei dois capítulos por semana, no mínimo. Traçarei a trama, os personagens, o início, o meio (clímax) e o fim. Pronto. A história nascerá finalmente.

11 anos, cinco meses e outros dias. (Eis o título.)

XXXIII. Registrar.

Filmes, desenhos, livros, pessoas são nossas influências. Achamos certos aspectos interessantes e nos arriscamos a imitá-los. Dá certo. Talvez não logo.
Demorei bons anos para firmar meu desejo. Tentava daqui, dali e não conseguia a continuidade necessária. Vi mais pessoas que administravam a arte e tentei novamente. Ajusta, puxa, muda, rasga, pensa. Consegui. Já há onze anos, quatro meses e uns dias.
No começo fui tímido. Cheio de pudores, receios e, em verdade, poucas experimentações. Também tinham as regras várias (hoje só há uma) e o medo de ser descoberto (não muito, que lembre).
A coisa foi indo e, mesmo hoje, não há uma só razão clara e inequívoca para justificar a empresa. Queria registrar, porque já gostava de colecionar. Admitia sentido na vida quando traçava objetivos colecionáveis. Sou um ávido colecionador. Latinhas, chaveiros, moedas, gibis, coleções de bancas de jornal, figurinhas, tampinhas de garrafa, cartões de visita, CD’s, livros, notas de dinheiro, broches, surpresas de Kinder Ovo, bonequinhos de guerra, medalhas de corridas de rua, tanto já colecionei e ainda coleciono.

Também comecei para compartilhar comigo e com os outros. Mais: como autoterapia. Mas, creio que o grande motriz foi mesmo a vontade de gravar meu nome na Terra. Oi, oi olha eu aqui. Vaidade.

Continuidade.

'Em ritmo', a bela história de Nermo, continua. Já escrevi mais capítulos e passarei a limpo logo. Criei uma história final que logo terminará. Está ficando legal. Quem sabe até fevereiro consigo terminar. Abraço, Escrita MCP.

12.12.13

Decassílabobo.

Escrevinharrrrrr.

Queria fazer um verso deca (ssílabo).

Será que sei contar as sílabas?

Prometo que estudarei mais.

Arrisco, contudo, esses versos.

Afinal, de tanto almejar ser (poeta),

Quem sabe um dia desses serei.

10.12.13

Lugares de infância.

Enquanto os novos capítulos (decidi ir até o XXXILV – confira desde o início em http://escritamcp.blogspot.com.br/2013/05/desafio.html) de “Em ritmo” não vêm, preciso matar a sede.

São dois: esse e outro em https://www.facebook.com/escritamcp?ref=hl (postagem de 10/12/2013).


Nos últimos tempos tenho experimentado algo novo. Entro ali, saio de lá, permaneço aqui e mais que enxergo minha infância, sinto-a. Tente: lembre-se de algum bom momento de seus primeiros anos, busque odores, paladares, ambientes. Apenas vê imagens ou consegue sentir como se ainda pudesse voltar para aquele lugar (como na visita à casa da avó) ou mesmo sentir como se estivesse naquela tarde experimentada há anos? Consigo. Não porque tenha tentado e obtido sucesso, como proponho, mas simplesmente encontro esses momentos enquanto caminho. Como são bons. Como me fazem bem. Ontem, veio um medo de saudosismo. Hoje, passou o medo.