18.11.13

XXX. Nermo. e XXXI. Sujeito na feira.

XXX. Nermo.

Ei-la, a caneta tinteiro. Se não usada com freqüência ela seca rapidamente. A esferográfica já dura mais e a um simples risc risc ela pega. A velha tinteiro demanda um nhec nhec de desentupir e recarregar a tinta (que precisa estar à mão).
Nermo também é assim. Sem visitas, sozinho, fica triste e precisa ser reanimado. Quase uma ressurreição.
Eis Nermo, de volta. Em uma manhã de primavera. Silêncio no bosque e friozinho de mato. Sol nascendo e nuvens já levemente douradas ao céu azul da manhã.
Novidade. Nermo se inscreveu em um curso de contos. Uff, agora vai. Será?! Vamos torcer. Quem sabe ele não aprende umas boas técnicas e dá fôlego à história que ele pretende criar, não é?
O curso será com um ilustre (ao menos, para ele) escritor: o neto de Graciliano Ramos, o escrevinhador infanto-juvenil (que também vem se embrenhando no ramo adulto) Ricardo Ramos Filho.
Ele não vê a hora de participar do curso. Isso aí, Nermo. Bravo. Nos vemos por aqui. Aquele abraço. Fui.

XXXI. Sujeito na feira.

O personagem limpou a caneta entupida (já não mais) e principiou a escrever. Era noite e ouvia um disco de vinil de antigas canções de ninar. Ao mesmo tempo, pensava na criação de um personagem complexo e na dificuldade da empreitada. Ponderava que a razão nascia da pouca complexidade de sua vida, de suas relações. Ou da sua curta história (era jovem nosso personagem). Complexidade, pois ouvira esses dias que a prosa literária deveria ter personagens complexos, misteriosos, profundos. Sabe lá. A segurança na escrita, realmente, não é algo instantâneo, originário. Há que suar.
O personagem, entretanto, tinha um amigo, um ambiente e um acontecimento.
Aquele gostara das novidades tecnológicas e tinha enorme paciência para decifrar os caminhos dos jogos e programas dos mais novos computadores e vídeos-game. Conseguia. E se divertia com isso. Também era amistoso com as pessoas e adorava o ar fresco. Era um cara legal.
Ele mesmo, para aqueles que gostam do sentido da visão, passava a máquina naqueles cabelos que crescem na nuca e bagunçam a estima do penteado curto e comportado. Fazia isso em seus dormitórios (foram vários) sempre organizados, limpos e enfeitados com artesanatos manuais dele próprio. O sujeito era prendado.
Em um lugar de encontros persistentes de tolerâncias passageiras ele acreditava no amor de uma mulher.
Mulher de encantos abstratos e personificados nas veleidades do nosso complexo personagem. Companheira de complexidades particulares cercadas de novidades sortidas.
Juntos. Aquele e aquela. No topo de um universo em infinita mutação, com planícies enjoativas, serras emocionantes e cidades-labirinto.
Onde moravam, terça-feira tinha feira. Legumes, frutas, cereais e tudo o mais. Ela gostava de começar pelas frutas, ele pelas hortaliças. Depois de um pepino e uma bela manga iam para a barraca de caldo de cana. Dilicia. Isso se fosse um dia normal.
Feira não tem facilidades. Inícios e fim se confundem e nos perdemos entre a melancia e o almeirão. Ele disse que iria chover, que hoje não iam para a feira. Início de madrugada, porém, não tem volta e os feirantes andam nas vassouras das bruxas mais bravas. Ela, sem bolas dar, disse que sim, feira com certeza faria.
Horas voam, vento sopra, ar e mais ar. Lá estavam nossos queridos na feira. Ele com o alface, ela com o caju.
Mas, o fenômeno meteorológico não engana, nesse dia, poucas horas de feira e a chuva caiu. Melhor, desabou. Não. Não a água que imunda seu cérebro. O conflito dele com ela e a feira de sua vida. Choveu. A feira fechou antes de abrir. Portas desceram da vizinhança e abriram na estrada. Viajou. Conheceu (tinha que conhecer) outras feiras e não mais voltou.

Sujeito é sujeito na feira. Feiras são tantas, encontramos por aí outras couves e feijoadas esperam para ser preparadas por um amigo, em um ambiente e em um acontecimento. Não se esqueça de mexer bem e botar os litros de água disponíveis. Dilicia.

14.11.13

Por onde corre o rio (o próprio).

Aproveite o dia. A vida é curta. Temos tão pouco tempo. Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. O tempo passa tão rápido. Corra, ande logo, vai, vai, vai, vai.

Não.

Quero deixar para depois de amanhã o que eu posso fazer hoje. Quero acreditar que a minha vida nem é curta nem é longa, mas eterna. Quero muitas vezes parar, ir devagar, com mais calma que a calma. Não quero (nem posso querer) tudo. O que der e vier deu e veio. Ótimo.

Acomodado? Que bom.

Ah, mas um dia a água vai bater na sua bunda. Aí quero ver. Háh. Aí querrrrro ver.

Não.

Os que acordam de manhã e de tarde acordam com a vida sabem por onde corre o rio (o próprio).


Vai, vai, vai, vai, você.

5.11.13

Minha história.

Fui buscar nas simplicidades da vida tamanho para o meu penar.

Encontro nos caminhos outras vidas.

Decido por concentrar a atenção na minha história.