31.7.16

meu bic

Cadê? Acabei de te emprestar. Mãos nos bolsos e por cima. O outro o mesmo. Estou do lado. Mas. Mas, o quê? Pensei, sem coragem de dizer: era só um isqueiro. Era meu. Emprestei. Não devolveu. Tem isqueiro? Sem resposta. Vai ao banheiro. O outro nem fala, já era gago e calado. Entre o esforço uma ou duas palavras, quando calmo. Embora, contextos surjam. A palavra única, uma tatuagem no ombro. Raul Seixas. Ele aceita a sugestão e caçamos o bic pelo chão do bar. Entende, né?! Era meu. Meu. Emprestei, não devolveu. Vai ter que dar os pulos dele. Sim, entendo. Não entendo. O outro volta. Saca uma nota da carteira. Problema resolvido. Se distanciam. Logo depois reatada a noite. Cumprimentam-se.
Continuo nas moedas do jukebox. Só voltei por causa do som? Não. Por certa razão frequento uns botecos melhores ou menores. Só eu. Não vejo pares. Sim os locais de longe ou de perto já antigos. O negro veio, o sertanejo jovem, as velhas raras, o jovem sinuca nem sei bem.
O som. Toma o ambiente, dançam, sacodem. O teto é sujo. E quem olha?
Diz o gago, depois de um tempo, que o sujeito é bom se gosta de música boa. E duas, depois mais duas músicas do Raulzito. E de novo bate no braço, arregaça a manga curta e mostra a cara dele, com o nome bastante legível embaixo: Raul Seixas. Cantamos juntos: um sujeito normal; metrô linha 743; um corcel 73, reclamar.
O dono do bar conversa com os clientes, sai detrás do balcão, assume o habituê, limpa as mesas, arruma meu livro, meus óculos, pergunta se está tudo bem. Se o gago me perturba.
Leio com o gago. Livro difícil, sobre o gita, sobre Raul, coincidência ou não.
Vou para casa. Resolvido o caso do bic. E certo que tenho ainda uma porção de coisas importantes para conquistar e não posso ficar aqui parado.


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