18.6.14

A confissão de Lúcio (Mário de Sá-Carneiro).

Bom livro. Recomendo. Romance que lembra os thrillers de Edgar Allan Poe. Final interessante. Seguem dois bons trechos da obra:

“– Um belo futuro?... Olhe, meu amigo, até hoje ainda me não vi no meu futuro. E as coisas em que me não vejo, nunca me sucederam.
Perante tal resposta, esbocei uma interrogação muda, a que o poeta volveu:
– Ah! sim, talvez não compreendesse... Ainda lhe não expliquei. Ouça: Desde criança que, pensando em certas situações possíveis numa existência, eu, antecipadamente, me vejo ou não me vejo nelas. Por exemplo: uma coisa onde nunca me vi, foi na vida – e diga-me se na realidade nos encontramos nela? (...)” (Mário de Sá-Carneiro (1890-1913, português), A confissão de Lúcio. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 43, grifo do autor.)

“Mas este novo período de calma bem pouco durou. Em face do mistério não se pode ser calmo – e eu depressa me lembrei de que ainda não sabia coisa alguma dessa mulher que todas as tardes emaranhava.
Nas suas conversas mais íntimas, nos seus amplexos mais doidos, ela sempre a mesma esfinge. Nem uma vez se abrira comigo numa confidência – e continuava a ser a que não tinha uma recordação.
Depois, olhando melhor, nem era só do seu passado que eu ignorava tudo – também duvidava do seu presente. Que faria Marta durante as horas que não vivíamos juntos? Era extraordinário! Nunca me falara delas; nem para me contar o mais pequenino episódio – qualquer desses episódios fúteis que todas as mulheres, que todos nós nos apressamos a narrar, narramos maquinalmente, ainda os mais reservados... Sim, em verdade, era como se não vivesse quando estava longe de mim. (...)” (Ib id, p. 83, grifo do autor.)


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